Alta da taxa Selic impacta consumidores e comerciantes do Alto Tietê


Índice do Banco Central contribui para o controlo da inflação no país. Para Robson Guedes, professor especialista em finanças públicas, o Desenrola Brasil, programa do governo federal para renegociar dívidas pode estimular a economia do país. Entenda como a Taxa Selic impacta no comércio do Alto Tietê
Esta semana é de muita expectativa pela queda na taxa de juros. A taxa Selic é uma ferramenta que o Banco Central tem para controlar a inflação no país, através do estímulo ou freamento do consumo, por exemplo. No Alto Tietê, tanto o comércio quanto os consumidores sabem bem o que a taxa tem representado nas compras.
Faz tempo que a taxa Selic tem pesado nas contas. Desde agosto do ano passado, a taxa básica de juros está em 13,75%. “A gente pensa bem antes de fazer. Agora, a gente tem pensado mais e comprado menos. É mais fácil juntar um pouquinho e pagar à vista, sem usar o cartão”, disse a agente escolar Patrícia Santos.
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TV Globo/Reprodução
“Eu prefiro comprar à vista, mas como às vezes não dá, acabo passando o cartão. Só que a gente tem que parcelar de acordo com o que a gente pode pagar ele todo. Porque depois, se for parcelar e a gente não conseguir pagar… O juros está alto, o juros de cartão, de banco, tudo está alto”, contou a cuidadora de idosos Lucimar Fernandes.
Se não está fácil para quem compra, para quem vende a conta também não tem fechado. Sérgio Hirano tem uma loja de calçados no centro de Mogi das Cruzes. Ele costuma vender no crediário tradicional e no cartão, mas, por conta dos juros, infelizmente ele acaba limitando o crédito na hora da venda.
“Atrapalha, porque o povo não consegue captar dinheiro. O dinheiro fica muito caro e também a gente não consegue parcelar em maior número de vezes, por causa do juros”, disse Sérgio.
A Selic alta impacta até na hora de montar o estoque da loja, por exemplo, segundo o comerciante. “Complica porque os fornecedores diminuem o prazo de compra. Então, o dinheiro fica mais caro pra gente captar”.
No ano passado, o comércio perdeu 317 lojas. Em 2021, foram 310. Os dados foram divulgados pela Junta Comercial do Estado de São Paulo. O presidente do Sincomércio do Alto Tietê reforça o pedido das grandes lojas do varejo. De que está na hora de cortar a taxa Selic.
Valterli Martinez, presidente Sincomércio do Alto Tietê, crê que a queda dos juros impacta diretamente o setor de vestuário
TV Diário/Reprodução
“Afetaria logo na venda do comércio porque, com a queda do juros, sobra mais dinheiro pro consumidor gastar. E mais dinheiro pro lojista poder investir em suas lojas. Então, com a queda de juros, automaticamente, cresce o consumo do comerciante, o consumo também de vendas pra que a gente possa enfrentar esse finalzinho de ano”, explicou Valterli Martinez, presidente Sincomércio Do Alto Tietê.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está reunido desde terça-feira (20) para decidir o futuro da taxa. Um corte na prática ou sinalização de redução, mesmo que pequeno, pode ajudar muitos setores.
“O primeiro setor beneficiado é a linha branca, televisores, geladeiras, eletrodomésticos, porque esses são os produtos que são mais financiados. O setor também de calçados e de roupas começa aumentando o prazo de pagamento com o juros mais baixo, facilita isso pro lojista fazer essa oferta para os consumidores. Com juros alto fica muito caro, esse dinheiro fica caro e acaba não sendo uma opção do consumidor, e acaba tendo que pagar à vista”, disse o presidente do Sincomércio.
“Se o juros cair, aumenta. O dinheiro vai ser captado mais fácil e a gente consegue até aumentar o número de vezes de parcela para os clientes”, disse Sérgio.
“Eu acho que vai cair, se Deus quiser”, contou Lucimar.
A expectativa é que a decisão do Copom seja anunciada por volta das 18h30 desta quarta. Segundo as fontes do mercado e também economistas ouvidos pelo g1, a expectativa é que o Banco Central mantenha a taxa como está e inicie o ciclo de corte a partir de agosto, ou seja, na próxima reunião, daqui 45 dias.
Histórico da Selic
Para termos de comparação, a Selic estava em 13,5% em junho de 2015. O menor patamar da taxa foi alcançado no meio de 2021, quando ficou em 2,25%. Entretanto, a partir de outubro de 2021 o índice vem crescendo.
Um reflexo quase que direto da Selic é o mercado financeiro. Quando um governo sinaliza, por exemplo, queda de juros, muitos investidores estrangeiros pensam melhor se vão aplicar o dinheiro no país. Na terça-feira (21), a Bovespa fechou o dia em alta, com 119.622 pontos, enquanto o dólar com uma leve alta, valendo R$ 4,79.
Reflexos da Taxa Selic no dia a dia
Robson Guedes, professor especialista em finanças públicas, afirma que a Selic foi diretamente afetada pela pandemia de Covid-19. O especialista comenta os impactos do índice no cotidiano da população.
“Eu costumo falar que a economia, nesses últimos anos, por conta da pandemia, vive um dia de sol e um dia de chuva, um dia de tempestade e um dia de bonança. Esse momento é o momento em que a taxa Selic continua alta, 13,75%. Há mais de um ano que ela está nesse percentual, e isso acaba atrapalhando a vida da dona de casa porque se ela tiver algum tipo de dívida pra ser renegociada, essa dívida fica muito mais cara, trocar a dívida por outro banco. E isso afeta também diretamente o preço dos produtos, porque a indústria também produz menos. Ela tem que ser alta por um período pequeno, pra conter”a inflação, mas ela muito duradoura acaba dificultando a produção da indústria, encarecendo o preço e o consumidor fica sem dinheiro pra poder comprar aquilo que deseja”.
O economista também acredita que a situação dos juros no país pode mudar nos próximos meses. Para ele, o programa Desenrola Brasil, que terá início em julho, pode ser um diferencial para a alteração deste cenário.
“Uma dica importante é que, no mês de julho, começa o Desenrola Brasil, que é um programa do governo federal pra renegociação de dívidas. Então, o cidadão brasileiro que tem dívida de até R$ 5 mil e ganha até dois salários mínimos, vai poder renegociar de forma direta dentro do Banco Central a sua dívida e melhorar sua condição de fazer novas compras, etc. E pra empresas grandes, a mesma coisa. Os bancos vão fazer ofertas de desconto nas dívidas porque o governo vai garantir, através do Fundo Garantidor, toda essa operação. Então, a perspectiva para os próximos meses, principalmente pro mês de julho, é de uma melhora e da volta ao crédito ao consumidor ”.
Para quem tem o objetivo de assumir novas dívidas, especialista em finanças públicas orienta as pessoas a pesquisarem das taxas de juros em cada banco antes de fechar o negócio.
“Verificar a taxa de juros dessa dívida, pesquisar em vários bancos, porque elas variam de um banco ao outro. De ontem pra hoje, por exemplo, as taxas que estavam gravitando no mercado eram de 1,99% e hoje, eu já na prática, vi operações a 1,70%. Então, há uma confiança em que o Banco Central comece a reduzir essa taxa Selic. O mercado entende isso também, ele é chuvas e trovoadas, mas também o investidor, o banqueiro também entende dessa forma que deve cair. Mas se cair a taxa Selic, vai cair de forma muito devagar, então vai demorar mais ou menos um ano, um ano e meio para as coisas voltarem ao patamar normal, que era 2% em meados de 2021”.
A expectativa de queda da taxa Selic pode alterar o comportamento de empresários e de consumidores. No entanto, Guedes ressalta que este processo de desaceleração dos juros deve ser lento e gradual.
“Já dá um certo alívio porque o investidor, o próprio empresário, comerciante começa a perceber que o juros começa a ficar mais baixo, então ele consegue a fazer de novo o processo de venda e crescimento do seu negócio com essas boas notícias. Mas nós vamos passar 2023 e 2024 ainda trabalhando mês a mês a redução dessa taxa”, finalizou Guedes.
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