Alunas do ensino médio da rede pública criam aplicativo para auxiliar mulheres autistas


Aplicativo Autie já foi premiado com medalhas em competições. Entre funcionalidades estão alarme para manter rotina, desenhos roteirizados para guiar atividades diárias e ferramenta de denúncias de violência. Estudantes do Alto Tietê criam aplicativo para auxiliar autistas
Alunas do curso integrado de automação do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Suzano, estão trabalhando no aplicativo Autie, que tem o objetivo de auxiliar mulheres autistas. Entre funcionalidades estão alarme para manter rotina, desenhos roteirizados para guiar atividades diárias e ferramenta de denúncias de violência.
Em 2020, o laboratório de robótica lançou uma campanha para incentivar a participação de alunas em projetos. A ideia começou com duas estudantes que chegaram a participar da Olimpíada Brasileira de Robótica.
Veio a pandemia e dificultou um pouco a realização do sonho, mas elas nunca desistiram. “Nós fizemos várias reuniões on-line, pelas plataformas digitais. Primeiro com a equipe, para definir o tema do projeto, como seria, e depois fizemos entrevistas com mulheres autistas e com profissionais de saúde para a gente poder aprofundar esse tema. Conversamos com diversas mulheres on-line, mandamos mensagens pelas redes sociais e todas aceitavam conversar com a gente, para a gente entender mesmo as necessidades dessa comunidade”, lembra a estudante Anna Beatriz Gavinho.
No aplicativo, o símbolo do infinito é utilizado pela comunidade autista e representa a neurodiversidade. Uma lhama e um gatinho orientam o usuário na navegação pelas funções. “A aba de alarme para ajudar e manter uma rotina, visto a importância para os autistas; temos a aba de crise para ajudar a partir de vídeos que ela pode assistir em algum momento de crise, enviar mensagem ou ligar para algum contato de segurança; SOS Violência para caso aconteça alguma situação de violência, ela consiga ter um auxílio mais rápido, que tem a opção de ligar para a polícia, gravar um vídeo para guardar como evidência ou enviar uma mensagem; Direito dos Autistas para divulgar as leis brasileiras voltadas para esse público; Desenhos Roteirizados que guiam nas atividades diárias, como tomar banho e beber água, visto que para os autistas interpretar desenhos roteirizados é bem fácil; temos também uma comunidade no Discord para troca de experiências e conhecimento”, explica Anna.
Alunas de escola pública desenvolvem aplicativo para auxiliar mulheres autistas
TV Diário/Reprodução
Elas estão agora na na etapa de finalização do aplicativo, que deve estar disponível nas lojas virtuais ainda este ano. A plataforma é totalmente gratuita, mas antes de chegar nesta fase, muita coisa aconteceu. “Como estudamos período integral, tínhamos pouco tempo para lidar com o projeto”, diz a estudante Isadora Ribeiro. “Era muito trabalho, muita reunião. Já chegamos a fazer oito horas de reunião seguidas em um dia, só para tentar corrigir erros de programação, por exemplo. Por mais que não seja exatamente o que a gente quer ainda, nós estamos no processo de construção dele e ver que temos algo que pode ser utilizado, já pode causar benefícios para alguém, é muito importante. É gratificante”, avalia Isadora Ribeiro.
Tanta dedicação rendeu medalhas importantes em várias mostras, inclusive de abrangência nacional.
De estudantes a empreendedoras no universo da tecnologia, o aplicativo em português ainda nem está pronto e as meninas já estão planejando disponibilizar em outras línguas.
A professora Vera Lúcia da Silva orientou o grupo e acompanha de perto cada passo das jovens promissoras.
“Essas meninas são sementes para a vida acadêmica, fazer um mestrado, um doutorado, porque elas estão participando de um projeto de iniciação científica júnior, que é para alunos do ensino médio. Eu gostaria que as pessoas entendessem a importância da iniciação científica, que já faz com que esses alunos, desde o ensino médio, comecem a pensar pesquisa. Imagina esses alunos quando finalizarem seu mestrado, seu doutorado?”, diz.
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