Escola estadual de Itaquaquecetuba promove o empoderamento de jovens negros através do currículo escolar


Na Escola Estadual Durval Evaristo dos Santos, os alunos trabalham a questão do antirracismo em sala de aula. Segundo IBGE, o número de brasileiros que se declaram pretos deu um salto em 10 anos no Brasil. Antirracismo faz parte do currículo de alunos de escola estadual de Itaquaquecetuba
O número de brasileiros que se declaram pretos deu um salto em 10 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento é justificado graças ao trabalho intenso de gente engajada para valorizar a cultura e incentivar as raízes. Projetos que se destacam dentro e fora das escolas.
Segundo a pesquisa, 10,6% dos brasileiros se declararam pretos em 2022, contra apenas 7,4% em 2012. Foi o maior aumento entre os grupos raciais no país. Este crescimento foi registrado em todas as regiões, com destaque para o Nordeste – por lá, essa alta foi de 8,7% para 13,4%, seguido da região sudeste, com 11,2% da população declaradamente preta em 2022, contra 8,2% em 2012.
“A gente tem um movimento acontecendo ali desde 2015, que a gente chama de consciência negra, que é o aumento das pessoas, já na fase adulta, retomando essa história da população negra, se reconhecendo, esse resgate. Então, passam a se reconhecer como pessoas pretas ou pardas muito tardiamente. Mas já tem alguns pesquisadores no Brasil que também olham pra esse dado com um pouco de cautela. Então, como eu disse, não é um assunto simples pra gente falar no Brasil. Permeia o racismo também e a gente tem uma influencia do racismo também nesse dado. Então, eu vejo que tem essa consciência, mas também a gente ainda precisa entender isso com cautela esse crescimento”, disse Jamile Santana, jornalista e consultora de diversidade que vive em Mogi das Cruzes.
Já o grupo de pessoas que se declaram pardas é o maior do país, com 45,3% das respostas em 2022. No mesmo intervalo de 10 anos, o grupo variou pouco: eram 45,6% em 2012.
“Quando a gente fala população negra no Brasil, a gente está fazendo uma junção da população preta, que são pessoas de pele retinta, escura, e as pardas, que são as pessoas que tem a pele mais clara, mas negra, não são brancas. Então, a população negra é a soma de pretos e pardos. Então, a gente pode se referir a uma pessoa preta retinta também como uma pessoa negra, pode usar essa nomenclatura. Mas negro é a soma”, completou Jamile.
Na Escola Estadual Durval Evaristo dos Santos, em Itaquaquecetuba, os alunos trabalham a questão do antirracismo no currículo escolar. Alunos, estudantes e funcionários discutem essas temáticas no dia a dia.
“Faz parte do currículo paulista na escola e também de toda a nossa proposta pedagógica, qu é estar incluindo os alunos em todos os segmentos. Entre eles, a questão do racismo. Esse racismo estrutural que existe na sociedade, a questão mesmo da pessoa se identificar como pessoa da raça negra, com a pele preta. Então, a gente coloca muito isso para os nossos alunos, que eles têm que se identificar enquanto pessoas, da forma que eles são. E valorizar. Tem dado certo”, explicou Nadir Godoi, diretora da escola.
Alunos e professores discutem questões étnico-raciais na Escola Estadual Durval Evaristo dos Santos, em Itaquaquecetuba
Reprodução/TV Diário
As atividades na escola fazem parte do Plano da Educação das Relações Étnico-Raciais, implementado no currículo escolar.
“Ele é todo fragmentado em todas as disciplinas pra que os estudantes tenham acesso e contato com elementos culturais, tanto dos povos que foram trazidos da África como dos povos originários, fazendo referência, menção de toda a cultura, religiosidade, histórico. E fazendo com que o aluno perceba a importância dessa educação étnico-racial pra construção da sua identididade”, disse Elaine Francisco, professora especialista do currículo.
Por lá, o racismo é discutido sem nenhum tabu. “Nós estamos discutindo a escola como um todo, uma instituição pública que contribui pra fins democráticos. Se ela contribui para os fins democráticos, não pode haver desigualdade e a desigualdade racial”, Paulo Bessa, professor de História.
“O que mudou no meu dia a dia é eu não ligar mais para o preconceito e não aceitar mais”, contou o estudante Vitor Alberto.
“Se o racismo é um problema social, então também é um problema meu porque eu faço parte da sociedade. Então, eu aprendi que eu também tenho que buscar lutar por essas causas, principalmente do preconceito racial”, disse o estudante Gustavo Félix.
A professora de Língua Portuguesa, Nelma Santos, lembra que o trabalho desenvolvido tem a ver com empoderamento.
“Nós trabalhamos aqui na escola diariamente com música, escritores pretos. Por exemplo, Machado de Assis, maravilhoso Machado de Assis, um escritor preto. E quando eu trago esses grandes escritores, cantores, atrizes famosos pretos e apresento pra esses alunos, eu estou ensinando pra eles ‘olha, eu sou preta como esses escritores’. E estou incentivando esses alunos também a se assumirem, a aceitar a sua identidade”, explicou Nelma Santos
Empoderada, Júlia Caetano aprendeu a ter orgulho de si mesma.
“A partir do 8º ano, eu comecei a assumir, eu comecei a achar bonito as meninas com cabelo cacheado e assumido mesmo. E que assumia o volume, não tentava ficar passando água e creme toda hora pra deixar ele baixinho. Eu comecei a assumir e comecei a achar muito bonito, e eu quis deixar o meu do jeito que ele é”, disse a estudante.
“Você se considerar preto, você tem que levar no seu caráter. E se você se achar não só levar características retratando no teu rosto”, disse a estudante Júlia Quezia.
Para a Beatriz, o antirracismo é uma luta contra o atraso e é uma luta de todos.
“Me ensinaram que é um problema social, um problema que todos têm que se envolver. Um problema que a sociedade inteira tem esse problema. Não só eu sendo branca que eu não tenho que lutar contra o racismo, eu tenho amigos pretos, eu tenho parentes pretos. Então, eu tenho que lutar contra o racismo mesmo sendo branca”, contou a estudante Beatriz Mendes.
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