Composições esttavam em manuscrito que preenchia a capa de um livro de 1748, encontrado na década de 80 em Mogi das Cruzes e que ainda estava com a encadernação original. Músicas mais antigas do Brasil são apresentadas em Mogi das Cruzes
As músicas mais antigas do Brasil já podem ser ouvidas em todo mundo nas plataformas digitais. O lançamento foi noite desta quinta-feira (28), em um casarão secular no Centro Histórico da cidade.
O quinteto de cordas da Sinfônica de Mogi das Cruzes executou uma adaptação de três das sete músicas conhecidas feita pelo maestro Lelis Gerson que estão no álbum As Solfas de Mogi das Cruzes. O maestro regente foi Rubens Russomanno Ricciardi que é titular da cadeira de Música da USP de Ribeirão Preto.
As composições estavam em um manuscrito encontrado na década de 80 em Mogi das Cruzes na capa de um livro de 1744, apontado por pesquisadores como o registro de música mais antigo do Brasil.
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Ricciardi também foi o responsável pela transcrição moderna dos manuscritos para um livro sobre as músicas que foi lançado em 2022. Isso porque quando eles foram encontrados estavam no formato de solfa que é um conjunto de papéis musicais que registra a música como um todo sem separar as partes de cada instrumento e também a voz.
Uma das partituras encontradas em Mogi das Cruzes
Michael Meyson/Arquivo Histórico Historiador Isaac Grinberg
As partituras preenchiam a capa do livro de Foral da Vila de Mogi das Cruzes , publicação que registra a origem da cidade. Esses manuscritos musicais foram descobertos em 1984. Desde então, elas foram alvo de pesquisa de diversos estudiosos.
O produtor cultural Wendell da Silva Miranda, mais conhecido como Deo Miranda, explica que as músicas contidas nas partituras foram compostas por seis pessoas, mas apenas a assinatura de uma delas aparece: Faustino do Prado Xavier. “Nasceu em Mogi em 1702 e morreu em São Paulo em 1800, enterrado na primeira versão da Igreja da Sé. Ele saiu de Mogi mestre de capela e termina a carreira na igreja como cônego. Das sete [músicas] conhecidas nem todas são dele”, afirma Déo.
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Ele aponta que esse é o conjunto de obras musicais mais antigo do Brasil que se tem conhecimento até hoje. “[Estamos] Falando do país mais musical do mundo e o marco zero está em Mogi. Esse material foi descoberto há 40 anos e é conhecido nos principais países da Europa e tem vasto registro de matérias, pesquisas e estudos. Mas não foi feito mais nada no Brasil. Não tinha como ouvir e agora tem. Estamos falando de uma obra de quase 300 anos que foi feita e que agora vai poder ser acessada por registro fonográfico”, avalia Deo Miranda.
História das Solfas
O historiador Odair Aparecido de Paula afirma que o manuscrito das solfas tem alguns indícios que permitiram a identificação da época em que foram criados. “Os documentos, eles possuem marca d´águas. O que possibilita a gente fazer uma datação desses documentos. Então, a gente [pode] provar que esses documentos são entre 1730 e 1735. Até então, as músicas mais antigas do Brasil eram datadas de 1759 da Bahia.”
O historiador explica que no período colonial, os padres faziam encadernações de atas de câmaras e livros em geral. “A gente acredita que aqui em Mogi das Cruzes, quando foi feito uma cópia do livro foral, em 1744, os padres carmelitas fizeram a encadernação. Então, nessa encadernação, aproveitaram os manuscritos musicais e colocaram dentro da capa e costuraram e graças a isso esses documentos se mantiveram até serem encontrados em 1984.”
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