Moradores do Alto Tietê ficam surpresos com anúncio sobre possibilidade de cobrança de pedágio na Mogi-Bertioga e Mogi-Dutra

Cobrança tinha sido cancelada por ex-governador Rodrigo Garcia no final de 2021. Durante campanha, atual governador Tarcísio de Freitas também se posicionou contrário a pedágio. Motoristas ficam indignados com possibilidade de cobrança de pedágio na Mogi-Dutra
O anúncio do governo do Estado que as rodovias Mogi-Bertioga e Mogi-Dutra podem passar a recolher tarifa de motoristas no sistema free flow, também conhecido como pedágio de cobrança automática, provocou irritação nos moradores do Alto Tietê. Depois de quase um ano de discussões sobre a “não instalação” de pedágio nessas duas rodovias, o projeto foi suspenso.
Mas, agora o governo estadual disse que tem como uma de suas metas o sistema “free flow”, fluxo livre em português. Ele é um projeto mais moderno, sem cabines mas que no fim das contas visa a cobrança de pedágio, do mesmo jeito.
A notícia de implantação de cobrança com um novo modelo tecnológico surpreendeu os moradores da região. Isso porque o ex-governador Rodrigo Garcia no final de 2021, havia cancelado a concessão do lote Litoral onde Mogi das Cruzes estava inserida. Na ocasião, ele destacou que não teria pedágio na Mogi-Dutra. O mesmo aconteceu com o atual governador Tarcísio de Freitas. Em uma entrevista para a TV Diário durante a campanha, ele disse que não cabia um pedágio na Mogi-Bertioga. Por isso, o anúncio do novo projeto do governo do Estrado gerou indignação dos motoristas. “Se fosse para melhoria da rodovia sim. Mas se for para continuar do jeito que está, tendo esses imprevistos que têm acontecido na rodovia, aí eu sou contra”, afirma o motorista por aplicativo Wellington Soares Lima.
A discussão sobre ter ou não uma cobrança de tarifa nas estradas no Alto Tietê foi retomada depois que o governo do estado anunciou que a Mogi-Bertioga e a Mogi-Dutra estão enquadradas no pacote de rodovias estaduais que vão receber a implantação do sistema free flow. O método consiste em um sistema de cobrança automática sem praças de pedágio e o motorista paga de acordo com a quilometragem percorrida.
A atendente Rafaela Olivia Camargo não concorda com a cobrança. “Eu acho um absurdo porque a gente que vai todo dia para Mogi, vai e volta, no final do mês dá um bom gasto para a gente. Para levar as crianças para creche, trabalhar, ir e voltar é bem difícil.”
A luta para que a região não tenha nenhum tipo de cobrança nas rodovias surgiu em 2021, quando a Agência de Transportes do Estado de São Paulo publicou um edital que apontava a instalação de uma praça de pedágio com cobrança na Mogi-Dutra e outra na Mogi-Bertioga. Na época surgiu o movimento pedágio não organizado pela sociedade civil.
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Adrianny Verçosa faz parte do grupo que conseguiu reunir cerca de 50 mil assinaturas contra o projeto. “A gente está contra o pedágio, então o que a gente quer é a não cobrança do pedágio. Então se o movimento tiver que sair em luta disso de novo, nós vamos sair. Foram 50 mil assinaturas, várias carreatas, passeatas, várias manifestações contra o pedágio até que o governador falou que não teríamos mais o pedágio. Então, para a gente foi uma conquista. Então, o que a gente busca mesmo é que o mogiano fique atento a isso que mogiano não pode pagar por mais um tributo.”
Cancelamentos
Diante da pressão popular, em 22 de dezembro de 2021 o projeto foi arquivado pelo então governador de São Paulo, Rodrigo Garcia. “O governo de Sâo Paulo cancelou a concessão do lote Litoral, portanto, Mogi das Cruzes não terá pedágio na Mogi-Dutra”, anunciou Garcia na época.
Com a mudança de governo, os estudos para tarifar as rodovias do estado foi retomado. Em 29 de março deste ano, o Palácio dos Bandeirantes confirmou que tanto a Mogi-Bertioga quanto a Mogi-Dutra estão enquadradas no pacote de rodovias que vão receber o sistema de cobrança free flow.
No entanto, durante a campanha eleitoral o então candidato e agora governador, Tarcísio de Freitas do Republicanos, afirmou em entrevista ao Diário TV que o Alto Tietê não tinha um perfil econômico para receber o pedágio e descartou a implantação da cobrança. “Não cabe pedágio na Mogi-Bertioga. E a gente tem que fazer as intervenções de capacidade. O que são as intervenções de adequação de capacidade? Se vir para aqui e falar vou duplicar a Mogi-Bertioga, provavelmente, você vai ter muito dificuldade de fazer essa intervenção. Mas é possível fazer alargamento de faixa, alargamento de pista, criar terceiras faixas, cuidar dos perímetros urbanos. Isso aí já traz uma grande diferença na vida do usuário e evita muitos acidentes, já melhora o nível de serviço e sai mais barato e é mais fácil de licenciar. Então, a gente tem que pegar a Mogi-Bertioga que é uma estrada já antiga que foi construída há tempos atrás e fazer essas intervenções de adequação. A mesma coisa é terminar os trechos que faltam de duplicação da Mogi-Dutra e ambos os casos a ideia é não fazer pedágio.”
Prejuízos e Alerta
Adrianny Verçosa avalia que o novo modelo de cobrança proposta pelo Estado é vantajoso apenas para o governo. “O free flow como eles estão falando que vai ser, vai sendo uma solução para o governo. Para não ter mais praça de pedágio, pra gente continua a cobrança. O que a gente não quer é o pedágio. Independentemente que seja com praça de pedágio ou com free flow.”
Para o comerciante Valdir que tem uma casa de ração às margens da Mogi-Bertioga e trabalha com entregas, uma tarifa na rodovia é inviável. “Fica difícil porque você vai pagar para se locomover dentro da região. Não tem como isso. Como você vai fazer um negócio desse.”
O prefeito de Mogi das Cruzes e presidente do Conselho de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat), Caio Cunha, a cidade e seus moradores lutaram muito para afastar a possibilidade de pedágio nas estradas. Cunha afirma que durante seu mandato sempre se posicionou contra a instalação do pedágio. “Nós conseguimos derrubar o edital na época que estava no Tribunal de Contas e também graças a uma força popular muito grande e a união de todos os políticos aqui da nossa região, a gente conseguiu pressionar o suficiente para que o antigo governador cancelasse esse projeto que fazia parte do projeto de todo o Litoral. Lembrando eram investimentos muito altos que iriam acontecer no Litoral e nada em Mogi das Cruzes. Mogi das Cruzes pagaria todo o custeio desses investimentos que aconteciam no Litoral.”
O prefeito destaca que a alguns meses tem ouvido falar que o governo pretende implementar em todas as vias estaduais o free flow, mas que faltam informações oficiais, especialmente, de onde e quando vão instalar, principalmente, de qual preço. “Agora uma coisa é muito importante a gente precisa avaliar alguns pontos. Primeiro qual o benefício disso para nossa cidade como a nossa população e as empresas da nossa região vão ser afetadas com isso e se esse projeto é mesmo do anterior só mudando a tecnologia. A gente tá aguardando e buscando na verdade mais informações sobre isso para junto com a população, junto com os políticos aqui da região a gente possa se mobilizar tanto quanto Mogi das Cruzes, enquanto prefeito, mas também como presidente do Condemat.”
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