Dia Mundial do Meio Ambiente: Trabalho de recicladores ameniza impactos do plástico no Alto Tietê


Relatório recente do Greenpeace aponta para a urgência de reduzir a produção e o uso de plástico. José Valverde Machado Filho, mestre e professor em Direito Ambiental na PUC-SP, afirma que a educação ambiental, unida a outras mudanças, pode mudar este cenário. Dia Mundial do Meio Ambiente: entenda como o uso do plástico contamina Terra e mar
Nesta segunda-feira (5), é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Uma pesquisa do Greenpeace apresentada no fim de maio deste ano mostra que a reciclagem do plástico, material que contamina a terra e o mar, não é uma boa alternativa, porque ele se torna ainda mais tóxico. Mas enquanto o material ainda é largamente utilizado, são os recicladores que evitam estragos ainda maiores.
É quase impossível passar um dia sem esbarrar com ele. Seja no copo d’água ou de cafezinho, o plástico está espalhado no nosso dia a dia. Infelizmente, depois de usado, muitas vezes acaba levando um fim nada correto.
A garrafa de água vai parar na boca-de-lobo e nas calçadas é fácil encontrar mais lixo. Os impactos ambientais deste descarte incorreto são minimizados por pessoas como Joelma Andrade Rodrigues. Diariamente, a coletora de recicláveis carrega a perua com as sacolas e sai pelos bairros de Mogi das Cruzes.
“Vai pegando material e traz tudo pro depósito e lá faz a separação. Lá, tudo é separadinho. O que nós sofremos é isso aí: segunda, quarta e sexta é dia de lixo seco. Inclusive, o pessoal coloca terça, quinta e sábado junto com o lixo úmido, onde coloca nossa reciclagem. Pela reciclagem, que o pessoal acha que é lixo, é onde a gente consegue ganhar o nosso dinheiro”, disse a recicladora.
Joelma trabalha com a família na coleta de materiais recicláveis em Mogi das Cruzes
TV Diário/Reprodução
Em média, ela percorre dez bairros todos os dias na cidade que, segundo a prefeitura, coleta uma média de 8.600 quilos de plástico por mês. Depois de horas na rua, Joelma retorna ao espaço onde ela e a sobrinha separam os materiais. É um trabalho de formiguinha que garante a renda da família.
“É maravilhoso porque, querendo ou não, não vai ter muito rios que entopem com esse tipo de lixo. Querendo ou não, não é um lixo, porque é o nosso dia a dia, é o nosso pão de cada dia, nossa renda. Porque hoje em dia tem muito pessoal desempregado. Eu dou graças a Deus que eu tenho esse meu trabalho. Eu amo demais o que eu faço”.
Plástico e reciclagem
Os plásticos que passam pelo ciclo de reciclagem contêm, geralmente, níveis mais altos de produtos químicos, que podem envenenar as pessoas e contaminar as comunidades. É o que concluiu um relatório do Greenpeace. O documento reúne dados científicos que apontam para a urgência de reduzir a produção e o uso de plástico.
“O plástico vem do petróleo. Então, ele é uma fonte não renovável e o plástico, quando ele se degrada, esse polímero libera um grande número de partículas tóxicas no meio ambiente e ele pode contaminar. Têm sido encontrados diversos componentes da cadeia alimentar, tanto marinha quanto terrestre ”, explica o biólogo Rodrigo Marques explicou sobre o processo do material.
Materiais plásticos são a matéria-prima do trabalho de recicladores do Alto Tietê
Reprodução/TV Diário
Ainda de acordo com o Greenpeace, a estimativa é de que, até 2060, a produção mundial de plástico triplique. Por isso, a ONG defende o fim do plástico. Esta ideia, na visão do biólogo, deve ser empregada o quanto antes.
“O plástico hoje pode ser substituído, na verdade ele deve ser substituído. Ele foi implementado mais por um conforto técnico e pelo preço da sua produção. Então, ele é uma substância muito barata de ser produzida. No entanto, esse custo ambiental suplementa e muito a economia que a gente faz com a produção dele. Hoje, o ideal é a gente trocar a sacolinha do supermercado por sacolinhas duráveis. É a gente substituir sacolinhas plásticas por sacolinhas de papel, por exemplo, que degradam mais facilmente e não destroem o meio ambiente”, completou o biólogo.
Soluções para o impacto do plástico
Números de uma pesquisa realizada antes da pandemia mostram que cada brasileiro produz, em média, um quilo de plástico por semana. Na contramão, o país é um dos que menos recicla esse tipo de material, apenas 1%. Cerca de 2,4 milhões de toneladas acabam sendo descartadas irregularmente todos os anos.
José Valverde Machado Filho, mestre e professor em direito ambiental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica quais as alternativas para a substituição do uso do plástico.
“O mundo fez isso. Na semana passada, 175 países se debruçaram sobre essa questão do plástico, pra reduzir a poluição do plástico em 80% em todo o mundo até 2040. E aí abordando praticamente três linhas. Primeiro, a questão de reusar. O plástico ainda tem um potencial de reuso que isso não está na realidade das pessoas e também do próprio setor produtivo. Segundo ponto, reciclar. O programa mundial da (Organização) das Nações Unidas coloca muita luz sobre a importância de se dar uma destinação para a reciclagem do plástico. E o terceiro é reorientar as diversas formas de se utilizar. Por exemplo, a questão do banimento desse plástico de uso único. Esse, sem dúvida nenhuma, é um grande desafio. No ano passado, 350 milhões de toneladas foram geradas como lixo advindo do plástico. Então, sem dúvida nenhuma, há uma necessidade de legislações, políticas públicas, mas mais ainda, uma mudança da direção do nosso desenvolvimento econômico”.
Por causa de suas dimensões continentais, o Brasil encontra alguns desafios na implementação de práticas sustentáveis em relação ao plástico. Para o pesquisador, uma delas é a mudança no Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
“O resíduo sólido como um todo no Brasil é um grande desafio. Nós estamos ainda numa era medieval. Nós estamos, hoje, no século 21 fazendo esse gerenciamento como se fazia no século 19. Ou seja, recolhemos nas cidades e afastamos para enterrar. Enterramos pagando com o nosso dinheiro, aquilo que tem valor econômico. Para se ter uma ideia, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos trouxe que, no Brasil, apenas se recicla, do ponto de vista geral, de todas as cadeias, 2,2%. Nós estamos atrasados por conta do nossos sistema de fazer essa gestão”.
Tubos, mangueiras e outros produtos criados a partir do plástico podem ser reciclados
TV Diário/Reprodução
“Nós temos um grande desafio também que é cobrar do setor produtivo a implantação da logística reversa, ou seja, aquele que colocou o material, o produto, o plástico no mercado, tem que criar os mecanismos de trazer isso de volta. E fazer isso de uma maneira que se integre a um conceito de economia circular, uma economia que possa, inclusive, garantir os nossos recursos naturais. Essa economia circular também tem grande impacto na questão da inclusão social. As pessoas que estão na catação, as cooperativas que têm ainda esse grande desafio e vivem ainda dessa catação, mas esbarram no problema também da população”.
Em relação às práticas da população em geral, o especialista também chama a atenção para as práticas do cotidiano. De acordo com ele, um conjunto de mudanças da sociedade, do Estado e do setor privado pode causar uma diminuição da utilização do plástico.
“Nós, enquanto cidadãos, não exercemos a nossa cidadania ambiental e não temos preocupação de descartar adequadamente. Sabe por que? Eu me deparei com uma pesquisa recente onde 85% das pessoas não se preocupam em como vão descartar seu resíduo. Aí o plástico é algo que tem grande presença no nosso dia a dia. Então, requer um esforço da legislação nacional ser cumprida, do setor empresarial fazer sua prática de colocar a logística reversa, cidadãos fazerem a sua parte com o hábito e também as cidade, que são responsáveis pela gestão de resíduos sólidos, ampliarem os sistemas de coleta seletiva e comunicar isso de uma maneira adequada”.
O mestre e professor em direito ambiental ainda ressalta que a educação ambiental é um dos caminhos para uma conscientização que resulta em mudança de hábitos e práticas sustentáveis.
“A educação ambiental, sem dúvida, deve fazer parte da educação formal e nós temos também um grande desafio. Um momento também de despertar a sociedade civil e o próprio setor empresarial, fabricante industrial, comerciante, pra que também comunique, sensibilize. Mais ainda, a educação ambiental precisa ser premiada. A gente começa a ver no Brasil e no estado de São Paulo algumas medidas que começam a premiar, a chamada ‘gamificação’. A pessoa vai lá, entrega o seu resíduo e acaba tendo um cashback. Essa também é uma linha muito interessante porque educar é uma forma importante, mas também premiar aqueles que, de alguma maneira, criam novos hábitos”, explicou
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