Acidente com avião da TAM que matou uma pessoa em Suzano completa 26 anos em julho


Após explosão no avião, em 9 de julho de 1997, Fernando Caldeira de Moura Campos caiu em uma área rual e morreu. Em 2021, a Justiça Federal declarou extinta a punibilidade do professor acusado de ter inserido a bomba na aeronave por ele ter sido declarado portador de doença mental. Acidente com avião Fokker 100 da TAM completa 26 anos em julho
O acidente com o avião Fokker 100, da TAM, completa 26 anos em julho. Um passageiro foi sugado para fora da aeronave e caiu em Suzano. O Diário TV fez o resgate deste caso e ouviu quem acompanhou de perto o fato à época.
“Eu estava trabalhando ali logo em frente ali e o corpo passou perto de mim voando. Parecia um foguete”, disse Maria Aparecida da Costa para o Jornal Nacional do dia 9 de julho de 1997.
Vítima caiu em plantação do bairro Tijuco Preto, em Suzano, após explosão na aeronave
TV Diário/Reprodução
O impacto da queda de Fernando Caldeira Moura, de 38 anos, chegou a fazer um buraco no chão próximo ao local onde caíram os destroços do avião em que ele viajava de São José dos Campos para São Paulo.
Maria Aparecida foi uma das principais testemunhas do acidente e voltou ao local 26 anos depois. Na época do fato, ela tinha 44 anos.
“É muito doído porque pra gente lembrar, do jeito que ele passou por cima de mim e caiu no chão, levantou poeira. Eu falei ‘agora eu vou ver o que é que caiu’”.
A agricultora aposentada trabalhava numa lavoura de repolho e nabo neste terreno, onde agora é uma plantação de eucalipto. O passageiro do avião caiu a poucos metros dela.
“Eu estava arrancando nabo nesse lugar. Eu coloquei a mão no joelho e a perna tremia. E eu cheguei vi que era uma pessoa com a roupa toda, o corpo todo enrolado, gravata toda enrolada, o osso da perna assim pra fora. Eu ficava tremendo. ‘O que é que eu faço sozinha aqui?’. “Primeiro ouvi um estouro. daí eu pensei o que é que está estourando, olhei pra cima e vi um objeto rodando descendo, parecia um foguete assobiando, só que ele estava descendo. daí tudo rodando mesmo, daí quando caiu eu fui ver. Pensei que era um boneco, não pensei que era uma pessoa”, disse a aposentada.
“Desceu apavorada. ‘Zé, Zé, caiu um homem lá no meio da plantação’. Eu falei ‘o quê? Caiu?’. ‘Caiu, caiu. Avisa alguém, avisa alguém’. Liguei pra alguém da polícia e em seguida eles apareceram aqui”, contou José Rita da Costa, marido de Maria Aparecida.
Reportagem do jornal O Diário de Mogi foi uma das primeiras a chegar ao local no dia do fato
TV Diário/Reprodução
A partir daquele momento, a rotina do bairro Tijuco Preto, localizado na zona rural de Suzano, mudou completamente.
“Essa estrada encheu de gente até lá embaixo, de carro. De gente era aqui na terra, que não tinha arame nem nada. Mas carro de todo jeito, reportagem de todo jeito, revista. Até à noite a turma vinha falar comigo”.
Um dos primeiros veículos de imprensa a chegar no local foi o jornal O Diário de Mogi, a notícia rendeu várias capas. Laércio Ribeiro, ex-repórter de O Diário, fez a cobertura do caso. Ele relembra os detalhes da cobertura especial.
“Eu estava percorrendo as delegacias, daí fui avisado sobre a queda da pessoa, de um passageiro do avião. Daí, no local, tem uma correria, desinformação completa, até os bombeiros não têm ainda informação correta pra passar pra imprensa. E você fica, conversa aqui, conversa com morador ali, quem viu, quem não viu, o que viu. Foi tudo muito rápido, surpreendentemente, numa área de 500 metros, podia ver vestígios da fuselagem do que caiu do avião. Inclusive o passageiro caiu e morreu”, disse o jornalista.
O Fokker 100, pilotado pelo comandante Humberto Angel Ascarel, decolou às 6h55 do Aeroporto de Vitória, no Espírito Santo, com destino a São Paulo.
O avião fez uma parada em São José dos Campos, onde 25 pessoas embarcaram, entre elas, o engenheiro Fernando Caldeira. A aeronave decolou às 8h32 de São José. O trecho até a capital é curto, apenas 20 minutos.
Destroços do avião foram recolhidos pelos bombeiros no dia da explosão
TV Diário/Reprodução
Oito minutos depois da decolagem, um sinal de alerta foi detectado na cabine. Uma bomba explodiu na parte traseira direita e abriu um rombo de dois metros de largura na fuselagem do avião. Foi neste momento que o passageiro foi sugado para fora da aeronave. O voo durou mais alguns minutos, com 54 passageiros e cinco tripulantes a bordo.
“Todos os passageiros se deram as mãos no avião. Todos na verdade esperando que o avião fosse cair né”, contou uma passageira que presenciou o acidente.
“O que se via era terror né, os cabelos sendo puxados pra porta, pessoas grudadas na cadeira”, disse outra passageira que estava no avião”, disse um dos passageiros à época.
“Passageiro segurando passageiro pra não ser sugado, pra não cair. O pessoal tava segurando uma moça que era quem tava mais próxima aí seguraram ela, mas o cabelo dela chicoteou o rosto dela o tempo todo, chegou cortar assim, o rosto dela”, contou outra passageira à reportagem do Jornal Nacional no dia do acidente.
Depois dos momentos de terror, o piloto Humberto Angel pousou o avião com segurança na pista do aeroporto de Congonhas.
“Em torno de dez minutos, aproximadamente. como eu tava no nivel 80, 2,4 mil metros, simplesmente o procedimento foi feito correto , simplesmente a aeronave estava despressurizada, não tinha o problema de cair as máscaras, por falta de ar pro passageiro, que isso é nível normal que qualquer avião voa. e efetuamos o pouso normalmente da aeronave”, disse o piloto à imprensa à época.
Após a explosão, os destroços de parte da aeronave se espalharam por uma grande área da fazenda onde a vítima caiu.
O Corpo de Bombeiros teve a missão de recolher todo o material para ajudar na investigação. Na época, o primeiro tenente Jean Carlos, que atuava em Suzano, foi o responsável por esse trabalho e levar o material para o Grupamento dos Bombeiros de Mogi das Cruzes para ser catalogado.
Hoje coronel da reserva aposentado, Jean, que tinha 31 anos na época do acidente, relembra detalhes daquele dia.
“Chegando lá, me ambientei pra tentar mais ou menos entender o que aconteceu junto com as guarnições, com as informações que eles já tinham lá. E daí acredito que gente já tinha recebido a informação que não havia mais vítimas, que só havia uma vítima. Naquela época era um pouco mais difícil. E aí coube então a gente começar a procurar o que caiu do avião, o que caiu de destroços, esse tipo de coisa recorrente dessa explosão. Tinha banco, o banco estava lá. Tinha partes de janela, fuselagem, metais de todo tipo, peças que eu acredito ser parte do banco, de outros bancos, não sei se mais, pedaço da fuselagem, interna, externa, pedaço de forração. Uma série de peças”, explicou o coronel da reserva.
A investigação da Polícia Federal e do Ministério Público descobriu que uma bomba foi colocada de forma criminosa no avião. As autoridades apontaram um passageiro, o professor Leonardo Teodoro de Castro, como o principal suspeito pela explosão dentro da aeronave. Três dias depois de sobreviver, ele foi atropelado na zona sul de São Paulo. Tempos depois do acidente, Leonardo ficou em estado vegetativo.
O processo pela autoria da explosão foi suspenso por tempo indefinido. Em março de 2021, a Justiça Federal declarou extinta a punibilidade do professor, por ele ter sido declarado portador de doença mental.
A vítima da explosão, o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, morador de São José dos Campos, era diácono de uma igreja evangélica e dono de uma empresa de tecnologia.
De volta ao local do acidente, Maria Aparecida, principal testemunha da queda do passageiro, não esquece o que aconteceu. Durante a reportagem do Diário TV, de repente, o barulho de um avião no céu chamou a atenção dela.
Explosão que causou a morte de uma pessoa abriu um buraco na aeronave
Reprodução/TV Diário
“Todos os aviões que passam, que a gente ouve, a gente olha pra cima”, disse a aposentada.
No local do acidente, José plantou um pé de coqueiro e flores para homenagear a vítima.
“Aquele pé de primavera foi alguém que trouxe e eu plantei lá. E mais umas florzinha miúda, mas não resistiram e morreram. Mas realmente, nos Finados eu vinha ali e limpava, acendia vela e ficava aquele pensamento, aquele assunto que aconteceu ali”, contou José.
A mãe do engenheiro Fernando fez questão de conhecer Maria Aparecida pessoalmente.
“Ela quis conhecer. Me trouxe uma manta, eu tenho ela em casa ainda, e trouxe um álbum de foto dele pra mim acreditar que ela era a mãe dele. Eu falei ‘não, não precisa, ninguém vai mentir uma coisa dessa’. Aí olhei o álbum que ela trouxe. A gente como mãe, como mulher, a gente sente a dor que a pessoa está sentindo. É a vida, né? Cada um tem a sua cruz pra passar”, finalizou a aposentada.
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