Pai de jovem morto por policial em Santa Isabel há um ano ainda espera por justiça: ‘Todo dia você enterra o seu filho’


Matheus Nunes Siqueira foi baleado na cabeça por um policial militar de folga. Segundo o Tribunal de Justiça de SP, o autor do disparo que atingiu o jovem responde o processo, que tramita em segredo, em liberdade. Após um ano, família de jovem morto por PM em Santa Isabel ainda espera justiça
Nesta quinta-feira (20), completa um ano do assassinato de Matheus Nunes Siqueira, morto por um policial militar de folga, em Santa Isabel. A família da vítima não se conforma e ainda espera justiça.
Os dias passam e não trazem paz para Agnaldo. Há um ano, ele convive com dois sentimentos bem diferentes: a saudade do filho e a frustração provocada pela sensação de impunidade.
“Hoje em dia, você matar está banalizado. No Brasil, você mata e acaba não dando quase nada. A pessoa, mesmo que for presa, fica pouco tempo. A gente vê aí os casos. E eu acho todo mundo tem que ser tratado igual, seja policial, seja bandido, seja criminoso, seja assassino. Tem a lei, é uma só. É sofrer duas vezes, porque você perde um filho, tudo, e a justiça ela conforta. Mas quando você fica sabendo disso, não tem acesso e, sabe? O pessoal faz pouco caso. Aí quer dizer que todo dia você enterra o seu filho”, disse Agnaldo Alves de Siqueira, pai de Matheus.
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Na camiseta, o pai carrega o rosto do filho que trabalhava como motoboy e queria seguir carreira na área de tecnologia. “Esse ano pra mim está sendo, assim, um dia de cada vez. Na verdade, ainda tem hora que eu olho assim e não acredito que ele faleceu, sabe? Mas vai ficando um vazio, porque de homem só tinha ele de filho”.
Aos 22 anos, Matheus Nunes Siqueira foi morto por um policial militar de folga em Santa Isabel
Reprodução/TV Diário
Matheus, jovem negro, de 22 anos, foi morto no dia 20 abril de 2022. Ele e um amigo estavam em um posto de combustível, em Santa Isabel, quando foram abordados por uma dupla de policiais à paisana. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP), durante a abordagem um dos policiais entendeu que um dos jovens iria sacar uma arma e atirou. Matheus foi baleado na cabeça, chegou a ser socorrido, mas não resistiu.
O caso foi registrado por câmeras de segurança. O pai conta que os policiais mentiram no depoimento, dizendo que eram policiais civis, quando na verdade eram policiais militares. Eles chegaram até a apresentar distintivos falsos. Inicialmente, a dupla foi indiciada pelos crimes de falsidade ideológica, usurpação de função pública e homicídio doloso.
O caso seguiu no Tribunal de Justiça de São Paulo, que absolveu um dos envolvidos. Já o autor do disparo responde o processo em liberdade.
Agnaldo conta que a Justiça Militar, que também acompanha o caso, entendeu que os policiais não poderiam responder por um crime militar porque não estavam em serviço. Ele também afirma que a Corregedoria recorreu da decisão, pedindo o afastamento dos oficiais, o que é visto pelo pai como uma esperança por justiça.
“É um caso muito grave esse e tem grandes chances de ser expulso. A Corregedoria, nesse sentido, eles são rígidos. Então, assim, é desproporcional. Eu acho assim, o crime maior, um crime que, eu acho, o mais grave que existe é tirar a vida, é tirar a vida. Porque não tem volta”, contou Agnaldo.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) disse que o inquérito policial foi finalizado e relatado ao poder judiciário no dia 23 de maio de 2022, e que a investigação, conduzida pela Corregedoria da Polícia Militar, segue em andamento, sob sigilo.
Já o Tribunal de Justiça de São Paulo apenas informou que o processo por lá tramita em segredo de justiça e que por isso não pode divulgar detalhes.
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