Moradores de Mogi das Cruzes se mobilizam contra a possível instalação de pedágio na Mogi-Dutra

Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado (SPI) explicou que deve ser adotado o free flow, um sistema de cobrança automática. Movimento Pedágio Não recolhe assinaturas em documento que já conta com o apoio de mais de 10,6 mil pessoas. Motoristas de Mogi se mobilizam contra a instalação de pedágio na rodovia Mogi-Dutra
Em Mogi das Cruzes, moradores e motoristas voltaram a se mobilizar contra a instalação de pedágios na Rodovia Mogi-Dutra. O governo do Estado diz que eles seriam cobrados em esquema diferente do previsto antes pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). No entanto, a alternativa não conforta quem já sente a possibilidade de uma nova despesa pesar no bolso.
Combustível e manutenção são algumas das despesas bem conhecidas por quem usa carro quase todos os dias. Ana Cristina Costa Nogueira é empresária e, há oito anos, desde que se mudou da capital, pega a Rodovia Mogi-Dutra pelo menos quatro vezes por dia tanto por causa do trabalho quanto para tarefas como levar os filhos para escola. Na soma dos gastos dessas idas e vindas, agora tem também a preocupação com a possível instalação de um pedágio na rodovia.
“Pensamos em várias cidades. E chegamos a Mogi porque, justamente, por ser perto o Centro, o condomínio era perto, e não tinha pedágio, menção de nada disso. Então a gente pensou, as despesas só com combustível e com a manutenção do veículo mesmo. E agora essa surpresa. A cada quatro anos a gente tem que ficar indo atrás, correndo atrás. É complicado”, disse Ana Cristina.
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Apesar do tema já rondar a região há algum tempo, o assunto voltou a ser destaque nos últimos dias depois do governo estadual anunciar que retomou os estudos sobre a instalação de cobrança de pedágio nas rodovias Mogi-Bertioga e Mogi-Dutra, que desta vez pode contar com dois pedágios. O que já estava previsto era um trecho de Mogi à Rodovia Ayrton Senna. Agora, há outro, da Ayrton Senna à Rodovia Presidente Dutra.
Em nota enviada à produção do Diário TV, a Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado (SPI) explicou que o atual projeto sofreu reformulação. O modelo anterior previa a concessão do serviço à iniciativa privada, mas agora ele passa a ser uma parceria público privada (PPP). Dessa forma, o governo do Estado deve custear R$ 5,3 bilhões ao longo dos 30 anos previstos. Mudanças também vão afetar a maneira em que o pedágio será cobrado.
A pasta informou que deve ser adotado o free flow, um sistema de cobrança automática. No trecho entre a rodovia Ayrton Senna e Mogi das Cruzes o valor será de R$ 1,95. Já no trecho entre Ayrton Senna e Presidente Dutra, deve ser de R$ 1,45. No antigo projeto, o usuário pagaria R$ 7,91 para utilizar as duas rodovias. Agora não deve ultrapassar os R$ 3,40. Mesmo com a redução, a cobrança deve pesar no bolso.
“Com tudo que a gente já paga, mais uma coisa, que seja 40, que seja dez [centavos], já vai impactar. A gente passa várias vezes aqui, não tem como controlar. Às vezes passo quatro, às vezes preciso passar cinco, às vezes acontece mais alguma coisa. Então, é complicado. A gente precisa ir no Centro de Mogi pra tudo”.
Em visita recente à região, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) comentou sobre o tema.
“Não vai ter pedágio na cidade, não vai ter praça de pedágio. Isso não vai ter. A gente está tirando da cidade. Obviamente, vai ter lá no final da Mogi-Bertioga porque você não consegue manter a Mogi-Bertioga sem cobrar. Não é possível porque não tem recurso. Todo ano você tem que ter opção ali, tem problema de segurança. A gente está tirando os pedágios da cidade, tirando, safando, aliviando o tráfego urbano, justamente porque a gente sabe a delicadeza do assunto. Toda vez que você vai fazer uma concessão, eu já fiz várias, já fiz mais de 80, é a mesma discussão, sempre a mesma discussão. E a gente, obviamente, está acostumado a lidar com isso, tentar resolver da melhor forma possível o transtorno. Nós temos uma necessidade muito grande de fazer investimento. Você vê a Mogi-Bertioga, o quanto ela sofre todos os anos com problemas geotécnicos. A gente vai aumentar a capacidade, vai fazer terceira faixa, vai fazer obra de contenção. E obviamente, é necessário que a gente faça isso com a iniciativa privada. Agora, o que está sendo estudado? Como diminuir o transtorno do cidadão. O modelo que nós vamos apresentar pra sociedade, pra discussão, é completamente diferente do modelo que foi apresentado lá atrás. Primeiro, não vai ter praça de pedágio, a gente vai trabalhar com sistema free flow. Segundo, a gente vai tentar tirar, vamos tirar todas as cobranças do perímetro urbano. A gente está vendo os locais, por exemplo, ligação de condomínio com a cidade, cidade com distrito industrial pra eliminar o máximo cobrança. Terceiro, vamos trabalhar com a lógica do desconto pro usuário frequente. Quarto, com as vias marginais pra não ter cobrança pro trânsito local, de maneira que a gente possa diminuir ao máximo o transtorno. Acho que é importante agora apresentar o modelo pra sociedade, a sociedade vai ver que já é um modelo bem diferente do que foi apresentado. Está sendo feito um esforço muito grande pra diminuir o máximo cobrança e transtorno. E a gente vai estar sempre pronto a receber sugestões e fazer adaptações no modelo”.
Apesar da fala do governador ser no sentido de uma tentativa de aliviar a cobrança para moradores da região, em nota, a SPI afirma que o usuário que tem origem ou destino dentro de Mogi das Cruzes ao distrito do Taboão ou ao Outlet, não vai pagar pelo trajeto.
Sobre o número de praças truncais, a Artesp apontava no edital que seriam cinco, mas, em nota, o governo do Estado diz que o antigo edital previa a instalação de quatro praças. Por isso, o atual projeto prevê a instalação de 16 pórticos, que são as estruturas onde ficam os equipamentos responsáveis pelo free flow ao longo dos 213 km da concessão.
Apesar das mudanças, para Adrianny Verçosa, coordenadora do movimento Pedágio Não, alguns pontos importantes não foram considerados.
“Aqui pra cima da serra moram, no mínimo, 40 mil pessoas, que foram desconsideradas no estudo aí. 40 mil pessoas que moram e, pra vir pra cidade, precisam pagar o pedágio. Ele fala em isenção pra quem mora ali, mas antigos tratados que tinham essa isenção pode cair a qualquer momento. Então nós não queremos correr o risco, visto que já caímos numa promessa que não foi cumprida, que foi que não teríamos pedágio”, disse Adrianny.
O movimento, que já vem atuando há alguns anos contra a instalação de pedágio na Mogi-Bertioga, agora se organiza mais uma vez para recolher assinaturas em um documento online, que já conta com o apoio de mais de 10,6 mil pessoas.
A Artesp já abriu período para uma consulta pública para coletar sugestões sobre o projeto. A participação da sociedade civil será discutida em uma audiência pública, prevista para ser realizada no próximo dia 18, na capital.
“Como a audiência pública [foi transferida] pra São Paulo, eles não vão parar a gente, seja lá ou seja aqui. o prefeito já entrou com o pedido pra que seja transferido pra que o povo mogiano seja ouvido. então, nós vamos estar na porta da audiência, se a gente não conseguir entrar. as caixas de repúdio, a assinatura da petição e que mais e o que for preciso”, completou Adrianny.
A produção do Diário TV pediu uma nota ao governo do estado sobre os apontamentos da reportagem e espera retorno.
A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o prefeito Caio Cunha (Podemos), que também é presidente do Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat), vai protocolar junto ao governo do Estado um ofício pedindo que a audiência pública sobre a implantação de três praças de cobrança pelo sistema free flow nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga seja feita em Mogi das Cruzes.
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