Moradores de Mogi se posicionam contra instalação de pedágio em rodovia: ‘essa obra foi uma conquista da população’


Além do presidente do Condemat e prefeito de Mogi, Caio Cunha, e de alguns movimentos existentes no Alto Tietê, os moradores que acompanharam a instauração das vias também demonstram insatisfação. Participantes da construção das rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga relatam o processo
Realizada nesta sexta-feira (18), a audiência pública da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) sobre a possível instalação de pedágios nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga reuniu moradores de diversas cidades do Alto Tietê, entidades e políticos.
O encontro aconteceu na capital, após a Artesp negar o pedido da Prefeitura de Mogi das Cruzes para que a audiência acontecesse em Mogi. Entretanto, a reunião aconteceu de forma híbrida, ou seja, quando existe a possibilidade de manifestação oral na forma presencial na cidade de São Paulo, como também através da participação pela internet.
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Em uma entrevista ao Diário TV, o presidente do Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat) e prefeito de Mogi, Caio Cunha, afirmou que não é a favor da instalação das praças.
“Eu apresentei, primeiro, a minha posição que é de não ser favorável ao pedágio e externei diversos argumentos do projeto como um todo. Desde a Rota do Sol – que querem fazer a nossa Perimetral como se fosse uma via expressa -, a própria questão da cobrança na Mogi-Dutra e, agora, dois. A Mogi-Dutra não é só uma pista que dá acesso à cidade, mas está dentro da cidade, ela divide alguns bairros. Dependendo de onde o pórtico [pedágio com cobrança automática] estiver, o mogiano terá que pagar pedágio dentro da própria cidade”, disse.
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Além dele e de alguns movimentos existentes no Alto Tietê, os moradores que acompanharam a instauração das vias também demonstram insatisfação. Um exemplo é o jornalista Darwin Valente, que chegou em Mogi das Cruzes três anos depois da inauguração da Rodovia Mogi-Dutra.
Segundo o jornalista, a estrada tinha uma pista simples. Conforme a cidade ia se desenvolvendo, mais carros usavam a rodovia e, com isso, o perigo só aumentava.
“Muitas vidas se perderam em acidentes muito graves porque era carro demais e espaço de menos. A briga por espaço ali era realmente muito grande. Os abusos, infelizmente, acontecem e os acidentes vinham na esteira de tudo isso”, conta.
Com base nesses acontecimentos e vendo a necessidade de uma duplicação, o jornal O Diário começou uma campanha que cobrava uma posição do Governo do Estado. “O jornal passou a trabalhar em função disso. Era cobrança diária em cima do Governo. O Mário Covas [governador na época] vinha com certa frequência em Mogi das Cruzes e, toda vez, um repórter do jornal estava lá o cobrando por essa situação”, diz.
“Certa vez ele veio para Mogi e a repórter do jornal encarregada de fazer essa cobrança fez várias outras perguntas para ele e, quando o Mário viu que a entrevista estava chegando ao fim, ele virou para ela e falou assim ‘ué, você não vai me perguntar nada sobre a duplicação?'”, brinca.
Além da pressão da imprensa, os moradores de Mogi das Cruzes também se uniram e, com muita luta, conseguiram a duplicação. “O governador Mário Covas deu o ‘start’ nessa importante obra que foi, realmente, uma conquista da população – não só do jornal, mas da sociedade mogiana”.
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Reprodução/TV Diário
Além de Valente, quem também se revoltou com a possibilidade de instalação de dois novos pedágios foi o sêo Jamil Hallage, de 97 anos, engenheiro responsável pela obra inicial.
“Falar hoje sobre cobrar pedágio em Mogi das Cruzes é simplesmente um absurdo. A estrada está pronta desde 1971, feita pela Prefeitura. Eles [Prefeitura] deixavam de fazer pequenas obras, para conseguir fazer a obra da rodovia”.
“Nós acompanhamos a construção passo a passo e ela saiu, devido ao esforço, a teimosia e cabeça dura do prefeito Waldemar Costa Filho”.
Segundo Darwin Valente, o trabalho do então prefeito de Mogi das Cruzes, Waldemar Costa Filho, foi demorado e, mesmo assim, ele fazia questão de prestar conta ao povo de cada investimento feito. Além disso, o jornalista afirma que, com a obra, não foi só Mogi que ganhou, já que Bertioga também acabou sendo emancipada.
“Essa estrada era alvo de disputas políticas. Quando o Waldemar deixou a Prefeitura, quem assumiu foi um promotor público chamado Antonio Carlos Machado Teixeira e ele tentou, de forma judicial, transferir a estrada para responsabilidade do Governo do Estado. Quando começou essa briga, Mogi parou de cuidar da estrada porque estava em julgamento e o Governo Estadual nem se abalou, ou seja, ficou abandonada”.
Esse abandono provocou entupimento do sistema de drenagem e, com isso, afundamentos na estrada. Valente explica que ninguém sabia para quem recorrer, já que nem a Prefeitura e nem o Governo de SP se posicionavam.
Após muita cobrança da população, a via passou por melhorias. Para quem acompanhou todo esse processo de perto, a instalação de pedágio é um absurdo. “Eu até bateria palma para essa cobrança, caso construíssem uma nova, com velocidade mais avançada. Eles podem construir uma nova, cobrar pedágio e deixar a estrada velha funcionando – deixando para que o motorista escolha”, diz Jamil Hallage.
“Essa estrada merece ser melhorada sem nenhum pedágio porque ela foi pioneira, foi feita com o suor do povo mogiano”, conclui.
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