A vida noturna mogiana está passando por uma mudança de comportamento que pode ser sentida nos finais de semana, principalmente no Centro da cidade. Desde a pandemia da Covid-19, o número de bares e adegas na cidade cresceu 82%. Segundo o professor e especialista em Administração Pública e bacharel em Ciências Jurídicas pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Robinson Guedes, existem diferentes respostas para este aumento, como a retomada da vida social, a busca por experiências, a mudança no comportamento de consumo da população, o aumento do poder de compra das pessoas, o crescimento populacional e, por último, a mudança do perfil da cidade.
Em 2022, de acordo com os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Finanças de Mogi das Cruzes, estavam cadastrados 428 bares na cidade. No início de 2025, este número cresceu para 782, registrando aumento de 82%. Só no Centro da cidade, em 2022, estavam registrados 125 bares. Agora, são 179. Aumento de 43.2%.
- Assista conteúdos exclusivos de O Diário de Mogi no TikTok
- Faça parte do canal de O Diário no WhatsApp
- Acompanhe O Diário no X e fique por dentro de tudo em tempo real.
“Houve uma retomada da vida social das pessoas e mais que isso, as pessoas estão buscando por novas experiências, por novidades. Durante a pandemia, as pessoas ficaram muito tempo em casa, sem os momentos de lazer, sem a possibilidade da convivência. Com a demanda reprimida, após a retomada, veio uma explosão de novos comércios, um fenômeno que não atinge apenas o Brasil, mas sim o mundo todo“, afirma Guedes.
A antiga Mirella virou bar
A icônica Mirella que durante muitos anos deu apelido de “praça da Mirella” ao Largo Bom Jesus, fechou as portas e foi vendida em 2022. No dia 15 de fevereiro, um casal paulistano inaugurou a Fênix Bar no local, mantendo a fachada e os detalhes do interior da antiga doceria, que seguem atuais.

O local que antes servia bolos e doces, agora serve porções salgadas, petiscos de boteco, drinks e cerveja gelada. Um dos carros-chefes da casa é a feijoada, servida aos sábados, das 12h às 16h.


“Hoje, as pessoas optam por uma vida noturna mais intimista, sentado, assistindo um show. O interesse passou a ser estar com os seus amigos, comendo uma boa porção, em um ambiente confortável”, comenta Leandro Bernardo, de 29 anos, responsável pelo marketing do bar.
“A proposta da casa é ser moderna, mas preservar a antiga Mirella, mantendo os vidros, a fonte que havia na parte de fora. A ideia é trazer um estilo de comércio que existe na Vila Madalena para a região, com uma comida de boteco mais sofisticada, mas ainda sim, acessível”, Henrique Ribeiro de Lima, 34, gerente do Fênix.


No Fênix Bar, a entrada é paga e varia conforme a atração musical. O estilo musical também é variado, desde samba e pagode, sertanejo ou brasilidades.
Grow = Crescer (em inglês)
Em São Paulo, a região de Pinheiros e nas proximidades da Faria Lima, muitos jovens se reúnem nas calçadas e até mesmo na rua, para conversar e beber alguns drinks. Em Mogi, esse movimento não é diferente.
Um comércio que tem feito sucesso no Centro, é o Grow. Inaugurado em agosto de 2019, em poucos meses o Grow, assim como outros comércios, se viu obrigado a fechar as portas momentaneamente por conta da pandemia da Covid-19. Contudo, após a retomada, o bar não parou de crescer e se tornou um “point” para os mogianos que buscam uma diversão noturna nos finais de semana, com uma assinatura artística.

Antes localizado na rua Dr. Ricardo Vilela, o pequeno bar enchia a rua, tinha show de DJ ao vivo e fez sucesso em 2024. Logo anunciou a mudança para um local maior, ainda no Centro. Hoje, o bar está na praça Monsenhor Roque Pinto, ao lado da Catedral de Sant’Ana, igreja matriz da cidade. Ele funciona às quintas-feiras, sextas e sábados, das 19h às 0h. Ao lado do calçadão, as pessoas do bar jogam conversa fora com uma bebida gelada e curtem um dos cartões postais da cidade.
Novos comportamentos e ambientes em Mogi
O empresário e sócio-proprietário do Grow, Thiago Gal, de 39 anos, cita a mudança de comportamento dos mais jovens, que não vão ao bar necessariamente curtir o espaço que ele oferece. “Sempre estivemos envolvidos com a cena artística, viajando, excursionando e fazendo ‘tour’. Era muito evidente o movimento de bares que estavam surgindo em outros lugares. Por exemplo, tinha a Void, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Existe uma ocupação da rua, o que torna possível você ter um bar, sem a necessidade de ter um espaço imenso, porque as pessoas estão afim de sair, mas não necessariamente com vontade de ficar dentro de um lugar. As pessoas queriam curtir o ambiente, nesse caso, a rua”, explica.

Gal viveu boa parte da vida ali, no Centro, próximo de onde o bar existe hoje. Apesar da igreja matriz, da praça, ele lembra que as pessoas não admiravam tanto aquela região. “Eu sempre achei muito ‘vira-latismo’ e me questionava: ‘Por que não tem isso aqui?’ Mogi é tão bonita, mas ninguém achava essa região bonita, com um olhar arquitetônico. Talvez com a presença do bar no local, as pessoas que frequentam possam mudar essa visão”. Thiago Gal é sócio de Nelson Bravin, de 37 anos, ambos administram o Grow.


Na rua é melhor?
“A proposta de ser um ‘role’ na rua permite que as pessoas circulem melhor, elas conseguem ficar mais confortáveis do que em um espaço reduzido. Além de poder prestar mais atenção na conversa, sem que a música ou as vozes das outras pessoas te atrapalhem. Você pode beber tranquilo, sentar no banco, no chão, onde se sentir melhor”, afirma Lucas Lorca, de 25 anos, frequentador do bar há dois anos.
Questionado sobre falta de segurança, Lucas que é homossexual, se sente mais seguro na rua do que em lugares fechados. “Me sinto mais inseguro dentro de bares, onde não tenho rota de fuga caso algo aconteça. O que é pouco provável aqui, visto que nunca aconteceu no Grow antes. Por ser uma pessoa LGBT, eu me sinto mais desconfortável em ambientes fechados porque os ambientes de Mogi são propícios para héteros”, diz Lorca.

Preconceito e histórico
“As pessoas vêem essa concentração de pessoas, como uma bagunça, uma baderna, mas na verdade não é. Eu vejo isso como vida noturna, é uma coisa pulsante. Prova disso é que nunca tivemos recebemos nenhuma queixa da Polícia Militar, nunca houve denúncia. A PM nunca precisou ir lá intervir. É um ambiente pacífico, nunca tivemos brigas, polícia nunca foi acionada. Estamos tentando desmitificar essa visão”, finaliza Gal.
O post Número de bares cresce 82% após a pandemia da Covid-19 e faz pulsar vida noturna mogiana apareceu primeiro em O Diário de Mogi.