Adolescente de 17 anos sofre homofobia e é espancado pelo próprio pai na Grande SP: ‘não vai sair para encontrar macho’


Vítima conta que estava se arrumando para sair quando agressões verbais por parte dos pais começaram. Como estava cansado das ofensas, rebateu. O pai foi atrás do menino, puxou a mochila que ele estava usando e deu vários socos em seu rosto. Além disso, o homem derrubou a vítima no chão e deu chutes na cabeça do próprio filho. Adolescente de 17 anos sofre homofobia e é espancado pelo próprio pai em Itaquaquecetuba, na Grande SP
Cristiane Siqueira/Arquivo pessoal
Um adolescente de 17 anos relata que foi espancado com socos e chutes na cabeça pelo próprio pai neste domingo (24) no Parque Recanto Mônica, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Segundo o jovem, que é homossexual, o crime aconteceu porque os pais não aceitam a orientação sexual dele.
A vítima conta que estava se arrumando para ir ao Centro comprar uma capinha para o celular. “Eles começaram a falar que eu não ia sair. ‘Não vai sair de casa para encontrar macho’. Eu ignorei, não costumo rebater o que eles falam. Quando eu estava saindo, minha mãe começou a falar mais ainda e meu pai começou a brigar também. Nisso, eu não aguentei e respondi”, conta.
“Meu pai começou a vir atrás de mim com muita raiva e minha mãe disse ‘pode bater, pode quebrar’. Ele puxou minha mochila, me deu socos, me derrubou no chão e deu várias chutes na minha cabeça”.
Uma vizinha, que estava presenciando a cena, conseguiu parar o pai da vítima e levou o menino para dentro da casa dela. Por fim, o adolescente ligou para os sogros, que seguiram para a delegacia. Além dos ferimentos no rosto, o menino teve um corte na mão, já que a usou para proteger o próprio rosto dos chutes do pai.
Adolescente machucou a mão ao tentar defender o próprio rosto dos chutes do pai
Cristiane Siqueira/Arquivo pessoal
O caso foi registrado no 1º DP de Itaquaquecetuba como lesão corporal e maus-tratos. Além disso, a vítima foi encaminhada para o Centro de Saúde (CS) 24h, onde foi medicado contra dor e recebeu um curativo.
Outras ameaças
O adolescente relata que tem um relacionamento homoafetivo com um jovem de 19 anos há quase um ano e meio. Apesar da família ter ciência da orientação sexual do filho, a vítima relata que as agressões – que acontecem desde quando o menino se assumiu para a família, aos 14 anos – aumentaram bastante desde o início do namoro.
“Para mim, acordar todos os dias e ouvir ‘você vai morrer, Deus vai te mandar pro inferno’, é horrível. Que tipo de cristãos são esses?”.
A professora Cristiane Siqueira, que é sogra da vítima, conta que – por conta das brigas recorrentes da vítima com os pais – já abrigou o adolescente em sua casa. Esse caso aconteceu em fevereiro deste ano. O adolescente decidiu buscar o Conselho Tutelar e, segundo a professora, o conselho afirmou que “ele tinha que voltar pra casa dele”.
“Um menor que é agredido fisicamente e verbalmente o tempo todo foi obrigado a continuar morando com os pais. O Conselho falou que são pais dele e que ele tinha que acatar ordens dos pais”, diz.
O adolescente é jovem aprendiz da Prefeitura de Itaquaquecetuba e conta que o emprego também é um tópico de discussão por parte dos pais. “Eles não aceitam o fato de eu ter independência financeira, queriam que eu pedisse demissão. Eu evito pedir as coisas para eles porque eles jogam tudo na minha cara. É péssimo viver tudo isso, eu só consegui esse emprego porque eles foram no conselho tutelar na intenção de denunciar a minha situação – quando eu estava morando com minha sogra – e o pessoal de lá fez de tudo para me ajudar, porque, se dependesse deles [pais], eu não estaria fazendo nada”.
“Bloqueei todo mundo das minhas redes sociais. Nunca fui de falar muito sobre meus pais, mas eu não sei o que fazer agora. Eu não vou voltar para casa, estou com medo. O que eu quero é pegar minhas coisas e ir embora”.
O que diz a Prefeitura?
A Prefeitura de Itaquaquecetuba informou, em nota, que o adolescente é atendido e acompanhado pelo Conselho Tutelar e pelo Centro de Referência Especializado de Assistência (Creas) do município.
Afirmou ainda que o acompanhamento deste caso ocorre de forma sistemática pelas equipes e, desde março deste ano, inclusive, o adolescente atua como jovem aprendiz na administração municipal, também como forma de mediar os conflitos e dar autonomia ao adolescente.
Por fim, a administração municipal informa que a pasta está apurando mais informações sobre o caso junto ao Conselho Tutelar.
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