‘Achei que depois de velha isso não ia acontecer mais’, diz mulher que denuncia racismo em loja na Grande SP


Professora aposentada diz que estava vendo roupas, quando uma mensagem no alto-falante da loja tocou, pedindo atenção para câmeras de monitoramento e logo depois percebeu um segurança atrás dela. Professora percebeu racismo em procedimento de loja em Mogi das Cruzes
Maristela da Silva Fernandes/Arquivo Pessoal
Aos 57 anos e curtindo a aposentadoria, a professora Maristela da Silva Fernandes não imaginou que seria vítima de racismo nessa etapa da vida.
Ela conta que olhava roupas na Pernambucanas no Centro de Mogi das Cruzes quando uma mensagem no alto-falante pediu atenção para câmeras de monitoramento e o segurança estava atrás dela. A Pernambucanas informou que repudia qualquer tipo de discriminação e apura os fatos. (veja nota completa abaixo)
“Eu estava tranquila e ouvi um alarme ‘atenção setores e 1 e 2 câmeras de segurança’. Não liguei e ouvi a mensagem novamente. Continuei olhando as blusas e vi alguém atrás e era o segurança e falei ‘qual é o setor 1 e 2’ e foi quando ele viu que eu era mais velha. E eu perguntei ‘o senhor está atrás de mim? Esse anúncio é por minha causa?’ E ele respondeu ‘isso é rotina da loja’, desconversou e saiu”, conta a professora.
Maristela ficou intrigada e foi ao provador onde perguntou onde ficava os setores 1 e 2. E descobriu que no momento que a mensagem foi tocada ela estava no setor 2.
“Olhei para o lado e não tinham outras pessoas negras. A única negra era eu. Fiquei indignada e fui conversar com o gerente. O gerente me disse que era uma rotina deles para evitar roubos e furtos. E perguntei ‘rotina se tem pele escura é dado alerta porque ela está querendo roubar?’ E ele disse que não era isso, era só um jeito de evitar roubos e furtos.”
A professora acredita que o funcionário julgou uma pessoa pela cor da pele e que a rotina da loja é extremamente racista.
“Achei que depois de velha isso não ia acontecer mais, estou com 57 anos. Isso me deixou tão mal e desencadeou um diabetes emocional.”
Maristela afirma que essa foi a primeira vez que foi vítima direta de racismo. “Declaradamente é a primeira vez. Passei na escola onde era professora em Jundiapeba. A mãe disse que tiraria o filho [da sala] por eu ser negra. Eu fiquei sabendo pela direção, mas dessa vez foi muito direto. E só tinha eu de negra na loja e o segurança se colocou atrás de mim”, desabafa a professora.
Ela registrou um boletim de ocorrência, mas essa etapa também não foi fácil. A professora foi ao 1º Distrito Policial de Mogi das Cruzes para registrar o boletim e foi orientada a fazer isso pela internet.
Maristela conta que precisou fazer a complementação do boletim no 1º Distrito Policial, mas precisou de ajuda. Ela procurou o gabinete da vereadora Inês Paz (PSOL) e foi auxiliada pela advogada Marcia Godinho que presta assessoria jurídica ao gabinete.
“Foi no acompanhamento que eu vi que precisava ser complementado. Quando ela voltou na delegacia a pessoa do atendimento falou para ela que ela tinha que constituir um advogado e fazer uma queixa crime”, explica a advogada. Ela detalha que após acompanhar a professora ao 1º DP a complementação foi feita.
“Fiz questão de registrar. A gente tem uma lei e precisa ser cumprida. Não tenho interesse em processo, só queria que a rotina não abalasse outras pessoas como me abalou e ninguém mais passar por isso só porque tem a pele negra. Essa cultura racista vai até quando? É uma dor miuito grande. Muitas pessoas quando escutam esse alerta saem correndo. Todos que estavam ali ficaram olhando para a minha cara.”
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) informou que “não houve aditamento ao boletim de ocorrência do caso. No dia 29 de outubro, a vítima realizou o registro através da Delegacia Eletrônica. No dia seguinte, 30 de outubro, o caso foi encaminhado para o 1° Distrito Policial de Mogi das Cruzes, onde é investigado. A vítima prestou depoimento à autoridade policial, que instaurou inquérito policial e segue realizando as demais diligências para o esclarecimento dos fatos. A SSP ressalta que todos os funcionários são orientados quanto aos protocolos a serem seguidos nos atendimentos às vítima.”
Já a Pernambucanas informou que “Com 115 anos de história, a marca repudia qualquer tipo de discriminação, seja por raça, gênero, orientação sexual ou religião. A Pernambucanas se solidariza com a Sra. Maristela Fernandes e reforça que a companhia possui a diversidade e o respeito como seus valores institucionais. Com base nisso, está tentando contato com a cliente nos canais que possui no intuito de encontrá-la pessoalmente para entender a situação em profundidade e se colocar à disposição para o que for necessário.
A Pernambucanas é uma empresa originalmente brasileira, presente em quase todos os Estados da Federação e assim inserida na cultura e pluralidade que marca a identidade do País, não se orientando por qualquer ato que tenha por objetivo a segregação ou o preconceito.
Por isso, reforça que os procedimentos adotados no interior das lojas não são orientados jamais, e sob qualquer hipótese, em razão das características pessoais dos clientes.
A companhia ressalta que segue buscando apurar com rigor o caso e, se for evidenciado qualquer aspecto inconforme, tomará medidas rígidas em relação aos envolvidos.”

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