Na cidade, 94% do esgoto é coletado e 59% é tratado. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Trata Brasil aponta que uma a cada duas moradias brasileiras convive diariamente com algum tipo de privação de saneamento. Cidades da região do Alto Tietê registram falta em saneamento básico
Para alguns moradores do Alto Tietê ter água encanada, rede de esgoto e banheiro pode parecer algo corriqueiro. Mas para quem vive em bairros afastados da área central em algumas cidades essa infraestrutura ainda é muito distante.
Em Mogi das Cruzes, por exemplo, 94% do esgoto é coletado e 59% é tratado. De acordo com a Prefeitura, a maioria dos bairros sem coleta e sem tratamento fica em áreas mais afastadas, como Biritiba Ussu, Chácara Guanabara, Jardim Nove de Julho, Parque das Varinhas, Parque São Martinho, Quatinga, Taiaçupeba e Sabaúna.
✅ Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
No caso do Jardim Piatã, que não aparece na listagem da Prefeitura, mas fica localizado exatamente em uma região afastada do Centro, a revolta não é só com a falta do serviço.
Em bairros afastados de Mogi das Cruzes ainda falta rede e esgoto
Reprodução/ TV Diário
Segundo os moradores uma verba de mais de R$ 41 milhões já foi destinada para instalação da rede, mas nem sinal de obra o bairro. O documento é de 2020. “Esse convênio foi assinado, foi feito aos pedacinhos, em várias etapas. Foi no Novo Horizonte primeiro, depois fizemos Piatã e Margarida. E nessa verba de 41 milhões estava o Piatã. A Sabesp chegou a anunciar que ia vir aqui de repente mudou o outro governador e paralisaram as obras e tá aí o povo sofrendo. Jogando esgoto a céu aberto dentro dos rios e nascentes, contaminando tudo e o governador não se manifesta e o povo sofrendo…nossa dúvida é porque o Piatão, o 1 e o 2, ficou de fora”, questiona o presidente da Associação de Moradores dos bairros da Divisa, Henrique Soares.
No bairro da Volta Fria mais gente espera pelo mesmo serviço. Vera tem três fossas sépticas que recebem todos os dejetos da casa dela. No bairro a falta de saneamento básico não é tão visível, mas pode acreditar é sentida todos os dias. “Eu lavo roupa com cloro, quando meu marido abre joga cloro em volta. A gente tenta higienizar da melhor maneira possível. Eu ainda tenho fossa, mas tem muita gente aí que está jogando no córrego. A parte debaixo ali cai tudo lá no Tietê”, afirma a aposentada Vera Lúcia da Silva.
A água que chega nas torneiras só chega porque a moradora tem poço. Presidente da associação de moradores do bairro, Vera garante que nem todo mundo tem água limpa em casa. A aposentada já fez a solicitação para que o bairro receba a rede dem água e esgoto, mas não teve retorno. “Eu fiz um ofício e levei para a Prefeitura…e até hoje não tive nenhuma resposta.”
Lavar uma louça, dar descarga e saber que o dejeto vai para o lugar correto é uma sensação que ela espera um dia experimentar. “A gente espera que a gente consiga colocar um prefeito com consciência. Para saber que aqui na Volta Fria tem mais ou menos umas 5 mil famílias e que essas 5 mil famílias precisam de uma visão. Porque de repente acha que é só um bairro com casas no meio do mato e não tem ninguém. Mas tem muita gente. A gente se sente abandonado na verdade pela Prefeitura de Mogi das Cruzes.
Saneamento Básico
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Trata Brasil aponta que uma a cada duas moradias brasileiras convive diariamente com algum tipo de privação de saneamento.
É até difícil imaginar que em pleno 2023 um serviço tão básico não esteja disponível para todos. Mas a realidade é que 25 milhões de brasileiros não tem acesso ao esgotamento sanitário adequado. Para chamar atenção para o assunto e todos os problemas que surgem com ele, foi criado o dia mundial do banheiro, celebrado em 19 de novembro.
A data é uma oportunidade para colocar o esgotamento sanitário em pauta e reforçar os compromissos em relação ao assunto.
A pesquisa do Trata Brasil tem outros dados alarmantes: 30,8% das casas do Brasil não contavam com acesso à rede geral de coleta de esgoto no ano passado. “A coleta de esgoto é muito deficitária no nosso País. Nós temos 30% das moradias não possuem coleta de esgoto são 22,8 milhões de moradias que não possuem coleta de esgoto. Infelizmente, a gente ainda lança 5,5 mil piscinas cúbicas de esgoto sem tratamento por dia na natureza. Isso porque de todo o volume de água consumida, apenas 51% desse volume que se transforma em esgoto é tratado”, explica a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto.
Outra informação preocupante é sobre a privação de equipamentos sanitários; mais de 1,3 milhão de moradias não contam com banheiro. “Nós temos um País bastante desigual. Essas pessoas que não possuem banheiro são pessoas que majoritariamente estão abaixo da linha da pobreza. São pessoas pretas, pardas que ganham um salário baixo que muitas vezes sequer completaram o ensino fundamental. A grande maioria que não tem acesso está localizada na região Nordeste”, avalia Luana.
O estudo também trouxe dados sobre abastecimento de água. Em mais de 16 milhões de residências a frequência de recebimento de água potável é insuficiente e 14% não contam com reservatório de água. “Essas casas muitas vezes, elas recebem água uma vez por dia ou às vezes acabam ficando muitos dias sem receber água. Por outro lado nós temos um déficit grande em relação a reservação. Ou seja a existência de reservatório nas casas. 11 milhões de moradias não tem acesso a reservatório. Então, essas casas além de não receberem água todos os dias não tem onde reservar. As vezes a água chega na madrugada, pessoa tá dormindo e acaba tendo que ficar aí três, quatro, cinco dias sem água em sua residência.”
A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o saneamento no Jardim Piatã e os demais loteamentos chamados bairros da divisa é de responsabilidade da Sabesp. E destacou que a concessão do serviço é da empresa estadual.
Já sobre a Volta Fria, a Prefeitura destacou que realizou um estudo preliminar que constatou que seria necessária inicialmente a extensão de aproximadamente 6 quilômetros de rede de água e um custo estimado em R$ 6 milhões para atender cerca de 250 pessoas.
Mas que a atuação do Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae) está regulamentada pelo princípio da reserva do possível, sendo necessário priorizar obras com maior abrangência populacional. E informou que a escola do bairro é atendida por caminhão-pipa. Segundo a Prefeitura existe uma previsão do coletor-tronco de esgoto atender a região, mas não há prazo.
A TV Diário também procurou a Sabesp, mas não teve um retorno.
Assista a mais notícias
Bairros afastados de Mogi das Cruzes ainda sofrem com a falta de saneamento básico
Adicionar aos favoritos o Link permanente.