Cibele conta que começou a ter fortes hemorragias que duravam cerca de 15 dias. Ao investigar, recebeu o diagnóstico: câncer de colo de útero. Foram dois anos enfrentando a doença e, ao mesmo tempo, gerando e depois cuidando de um recém-nascido. Cibele dos Santos acompanhada de seu filho Davi, de 4 anos
Cibele dos Santos/Arquivo Pessoal
Geralmente é um atraso na menstruação que traz o alerta de uma gravidez. Cada mãe tem uma história diferente para contar dessa descoberta. Para a empregada doméstica Cibele dos Santos, a notícia chegou de um jeito surpreendente: durante um ultrassom, dois meses depois da descoberta de um câncer no útero.
Foram dois anos enfrentando a doença e, ao mesmo tempo, gerando e depois cuidando de um recém-nascido. Neste dia das mães, Cibele dos Santos tem muito a celebrar, sem esquecer a angústia que viveu.
“Na medida que o bebê ia crescendo, o câncer também crescia. Enfrentei todo esse processo e nomeei meu filho de Davi. Assim como o rei Davi que derrotou Golias, meu filho me ajudou a lutar contra a doença”.
Davi, de apenas 4 anos, gosta de tirar fotos com coroas para ficar igual a um rei
Cibele dos Santos/Divulgação
Cibele mora em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, e relata que em 2018 começou a ter hemorragias que duravam cerca de 15 dias, paravam por três e depois voltavam. Com isso, decidiu buscar atendimento e, após a realização de uma biópsia, descobriu estar com a doença. Dois meses depois veio a confirmação da gestação durante um exame de ultrassom transvaginal.
“Na hora que o médico me falou da gravidez, eu falei ‘impossível, eu estou com hemorragia há dias’ e ele me respondeu ‘olha ali na tela’. Quando eu olhei, meu filho já estava se mexendo, estava enorme. O bebê já tinha 4 meses”, diz.
A empregada doméstica conta que conforme a barriga ia crescendo, o câncer aumentava. Por conta de uma hemorragia na etapa final da gravidez, os médicos decidiram fazer uma cesárea de emergência. O bebê nasceu aos oito meses de gestação.
“Durante o parto, tive que receber quatro bolsas de sangue uma de plasma, foi muito complicado. Graças a Deus meu filho nasceu enorme e saudável. Ele teve alta do hospital e eu não. Ele ficou lá comigo, esperando a minha vez de sair”.
Cibele, ainda internada, cuidando de seu filho que já tinha recebido alta médica
Cibele dos Santos/Arquivo Pessoal
Cibele amamentou o filho por quatro meses e, após esse período, começou a fazer quimioterapia e radioterapia. Ela conta que também precisou fazer braquiterapia (também conhecida como radioterapia interna) e, quando pensou que todo o processo estava chegando ao fim, descobriu que o câncer tinha avançado. Foram mais 25 sessões de radioterapia e uma laqueadura.
“Eu chorei muito quando os médicos disseram que eu não iria amamentar mais por conta da quimioterapia. Depois entendi que era um processo necessário para que hoje eu estivesse aqui, desfrutando de muitos momentos com ele”.
Para a mãe, o nascimento do filho foi um milagre, principalmente para a equipe médica que acompanhou todo o processo e acreditava ser um caso impossível.
“Davi é meu segundo [filho]. A primeira gravidez foi da minha filha Cynthia, que tem 17 anos, e foi bem tranquila. Sem nenhuma complicação. Além disso, não tinha histórico de câncer na família”, relata.
“Muitas vezes eu chego no hospital e, quando vejo pessoas que acabaram de receber o diagnóstico de câncer, conto meu caso e as pessoas ficam surpresas. Onde eu vou, conto minha história. É um incentivo, acaba fortalecendo, né?”
Davi no colo da irmã, Cinthya dos Santos, em 2019
Cibele dos Santos/Arquivo Pessoal
Maternidade e talento na cozinha
Hoje, curada, Cibele conta que aproveita todos os momentos que passa ao lado dos filhos. Passeios, atividades em conjunto, brincadeiras e aprendizados.
“O que o Davi – que está com 4 anos – mais gosta de fazer é brincar de escolinha. A professora da escola até me disse que ele melhorou muito depois que comecei a passar algumas atividades em casa. Ele leva em tom de brincadeira, mas as lições são de verdade”, brinca.
Além disso, a mãe conta que descobriu um talento após a cura do câncer: fazer bolos. Claro, o filho é presença confirmada no processo de confecção.
Cibele descobriu o talento que tinha para confeitar bolos e, hoje, esta é a principal fonte de renda da família
Cibele dos Santos/Arquivo Pessoal
“Depois do tratamento, comecei a ficar em casa, precisei fazer um bolo e ficou lindo. A partir deste momento comecei a fazer vários, divulguei para muitas pessoas… É uma ótima fonte de renda. Além disso, conto com o Davi para me ajudar, ele sempre fica responsável por colorir o chantilly”, diz.
“Todos os dias eu me sinto abençoada, mas no Dia das Mães paro para refletir e percebo o quão importante eu sou. Me sinto vitoriosa, realizada e forte. Muito forte! Não foi fácil, mas venci e continuo vencendo todos os dias”.
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