Em ascensão no rap nacional, conheça a trajetória da artista Ajuliacosta: ‘Quero fazer valer a pena o lugar que me colocaram’


Dona dos hits “Homens Como Você” e “Não Foi do Nada”, a cantora de 25 anos, já acumula 211 mil seguidores em sua rede social e cerca de 261,9 mil ouvintes mensais em uma plataforma de streaming de música. De Mogi das Cruzes para o Brasil, ‘Ajuliacosta’ é indicada para quatro categorias de premiação
Redes sociais/Reprodução
Indicada a quatro categorias do Prêmio RAP Brasil como “melhor EP”, “melhor arte de capa”, “melhor videoclipe” e “artista revelação”, Julia Costa – conhecida como “Ajuliacosta” ou “Aju” – nasceu e começou seu projeto musical em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
Dona dos hits “Homens Como Você” e “Não Foi do Nada”, o g1 conversou com a artista de 25 anos, que já acumula 211 mil seguidores em sua rede social e cerca de 261,9 mil ouvintes mensais em uma plataforma de streaming de música.
‘Ajuliacosta’ como marca de roupas
Julia conta que morou na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) dos 7 aos 15 anos e sempre foi antenada. A moda sempre esteve presente em seu cotidiano, seja em páginas de blogs ou em videoclipes musicais.
“Minhas amigas iam para São Paulo comprar roupas e eu não tinha essa condição. Aí eu comprei o tecido e minha mãe fez minha primeira saia. Minha família não tinha tantas condições de estar comprando roupa, então comecei a fazer. Como minha mãe já tinha noção de corte e costura, fui aprendendo com ela. Com 14 anos comecei a customizar roupas e ia para a escola. Depois de um tempo, as meninas da minha escola começaram a gostar das roupas que eu fazia e aí comecei a vender para elas”, relata.
Julia conta que trabalhou como operadora de caixa em uma adega e depois como aprendiz de qualidade em uma fábrica de tratores. Com isso, aprendeu bastante sobre o processo industrial, administração de equipe e, principalmente, qualidade dos produtos.
“Quando eu estava na fábrica, me deu um estalo e eu percebi que o que eu queria era isso mesmo. Ter a minha própria indústria, minha própria linha de produção, minhas próprias coisas. Quando eu tinha 17 anos, acabou meu contrato nessa empresa e eu comecei a cuidar só das minhas roupas. Investi os R$ 700 da minha rescisão e, nesse momento, nasceu a marca Ajuliacosta Shop”.
Para a empreendedora, o objetivo principal da marca é trazer representatividade. “Quando eu cresci um pouco mais, comecei a ter muita influência do rap – principalmente o nacional – e do samba na minha vida, comecei a entender sobre negritude e sobre algumas coisas que vão além de mim. Resolvi trazer representatividade para as mulheres negras na moda, para que elas pudessem entender que são capazes de chegar onde quiserem”.
Julia criou sua própria marca de roupas quando tinha 17 anos
Julia Costa/Arquivo pessoal
Carreira musical
A cantora conta que começou a escrever com 12 anos e sempre frequentava as batalhas de rima que aconteciam no centro de Mogi. “Um dia minhas amigas falaram para um MC que estava lá que eu escrevia. Ele ficou me enchendo o saco para mostrar minhas rimas e aí eu mostrei, ele olhou e falou ‘mano, isso está muito bom’ e me chamou para entrar no grupo dele”, diz.
O convite foi aceito e Julia, aos 14 anos, passou a fazer parte do grupo Mistura de Fatos. Entretanto, o sonho não durou por tanto tempo, já que os primeiros shows começaram a aparecer e, como a artista ainda era adolescente, precisava contar com a permissão da mãe.
“Hoje minha mãe aceita muito, super me apoia, acha incrível. Só que naquela época eu era uma menina mais da rua, sabe? Meio rebelde, sempre fiz o que eu queria e, talvez, ela não teria essa confiança em mim, de eu estar na rua cantando… Não ia rolar”, explica.
A artista decidiu sair do grupo e, por um tempo, o protagonismo musical precisou dar uma pausa para que o empreendedorismo tivesse o seu espaço. “Comecei a fazer muita entrega por São Paulo, fiz muitas fotos com as meninas de lá e aí eu comecei a conhecer melhor a cena do rap da capital, até que entrei em um estúdio e comecei a fazer minhas rimas. Depois de um tempo saí do estúdio e lancei meu primeiro mini EP, de três faixas, de forma independente. Após isso dei uma segurada, parei por uns quatro ou cinco anos e voltei há menos de três anos, com o som ‘Mina Chavosa'”, conta.
Ajuliacosta já acumula cerca de 261,9 mil ouvintes mensais em uma plataforma de streaming de música
Reprodução/Redes sociais
Retorno da “Aju”
O “boom” na carreira da artista aconteceu no ano passado, com o EP de seis faixas, nomeado “Aju”. “O processo de lançamento do EP aconteceu após eu juntar muitas composições que eu tinha. Acho que umas três eram antigas que resgatei e três eram novas, que eu escrevi no mesmo ano que lancei”, relata.
“Eu fui convidada para o festival Cena 2k22 e queria preparar um bom show. Então foi meio que uma estratégia: as pessoas iam procurar saber quem era ‘Ajuliacosta’ e eu teria material para mostrar. No fim, deu certo. Me proporcionou muitos shows, a minha música bateu muito e eu acho que vou continuar nessa pegada, sabe? Fazer o meu trabalho, dar o meu melhor sem esperar retorno”.
Na música “Marido de Bandida”, a MC decidiu trazer as raízes e cita todos os lugares em que morou em Mogi, além de amizades que mantém até hoje.
“Apesar de todo mundo achar que eu sou de São Paulo, não, eu sou de Mogi. Eu estou em SP há cerca de cinco anos, mas preciso honrar o lugar que vim. [Na música] Eu falo de toda quebrada que morei, Oropó e CDHU, que foram onde eu mais passei tempo. Todas as meninas que eu cito na música são minhas amigas, a gente não se vê sempre – porque agora eu vou para Mogi uma vez por mês -, mas a gente sempre conversa, a gente se gosta e elas super me apoiam”, conta.
Julia Costa morava no CDHU, em Mogi das Cruzes
Julia Costa/Arquivo pessoal
Parceria além dos palcos
A artista conta com um grande apoio: Matheus Santos, de 23 anos, o produtor responsável por produzir grande parte das músicas da cantora, que também é seu par romântico há sete anos.
“O Mat tinha um coletivo e um fotógrafo fez uns trabalhos com os meninos desse grupo. Decidiram fazer uma exposição com as fotos e eu fui. Nós dois conversamos, nos demos bem. Depois disso, a gente sempre foi se encontrando por aí… Por fim, começamos a nos gostar muito e estamos juntos todo esse tempo”.
‘Aju’ e seu parceiro, no amor e na música, Mat
Reprodução/Redes sociais
Remix de ‘3AM’
Nas últimas semanas, as redes sociais foram tomadas por uma trend em que as MCs respondiam o cantor Sotam na música “3AM”. No dia 21 de abril deste ano, Sotam anunciou o lançamento de um remix oficial da música com participação da Ajuliacosta.
“Eu fui a primeira a fazer a resposta do som do Sotam. Soltei em uma plataforma e, em menos de duas horas, já tinham 100 mil curtidas. Não esperava que tantas artistas fossem gravar também e, para mim, isso foi muito gratificante. Parece que conseguimos dar uma movimentada na cena e foi inevitável não falar o nome dessas meninas, sabe? Essas mídias grandes de rap que – muitas vezes nem falam sobre nós – falaram sobre o movimento que estava acontecendo”, celebra.
Ajuliacosta em um show realizado em São Paulo
Reprodução/Redes sociais
Realizações e expectativas
A artista relata que o ponto crucial para o sucesso, tanto musical quanto no empreendedorismo, foi a confiança. “Eu entendi meu potencial, acreditei muito em mim e, agora, acho que meu sentimento é gratidão”, diz.
O maior sonho da Julia é ser como artistas que ela sempre admirou. Entretanto, a MC sabe que isso é resultado de muito tempo, estudo e, claro, dedicação.
“Não que eu ainda não seja a artista que sempre sonhei, mas acho que continuo nesse caminho de construção. Quero ser uma representante de força e quero fazer valer a pena o lugar que me colocaram”.
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