Entre 2019 e 2022, região registrou 21 alertas de desmatamento, segundo MapBiomas Alerta. Para Maurício Vancine, doutorando em Ecologia pela Unesp, área afeada na região não representa grande perda florestal em termos absolutos, mas pode causar outros efeitos ao meio ambiente. Toras de madeira foram localizadas em Taiaçupeba, em Mogi das Cruzes, em janeiro de 2023
GCM/divulgação
O Alto Tietê registrou 21 alertas de desmatamento entre os anos de 2019 e 2022, segundo dados do MapBiomas Alerta, projeto MapBiomas. Ao todo, uma área de aproximadamente 32 hectares foi atingida pelos desmatamentos na região nos últimos anos que, em termos de comparação, representa em torno de 40 campos de futebol.
As cidades com mais registros de alertas de desmatamento durante o período foram Mogi das Cruzes e Suzano, cada uma com cinco. Por outro lado, as cidades de Biritiba-Mirim, Guararema, Poá e Salesópolis não tiveram registros de alertas de desmatamento com mais de 0,03 hectares durante o período do levantamento.
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O território do Alto Tietê integra a Mata Atlântica o primeiro bioma brasileiro ocupado e destruído de forma ampla. O Parque Estadual da Serra do Mar, a maior Unidade de Conservação do bioma no país, por exemplo, corta alguns municípios da região, como Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes e Salesópolis.
O MapBiomas Alerta, criado pelo projeto MapBiomas, é capaz de detectar áreas afetadas a partir de 0,3 hectare. A ferramenta permite entender a dinâmica do desmatamento no Brasil desde 2019, em diferentes limites geográficos, recortes fundiários e situação administrativa com mapas, gráficos e estatísticas para subsidiar ações que garantam o desenvolvimento sustentável do território brasileiro.
Impactos no meio ambiente
Dos 312.500 hectares de área total do Alto Tietê, 115.625 são de vegetação florestal, o que corresponde a 37% do território da região. Segundo Maurício Vancine, ecólogo e doutorando em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), os 32 hectares desmatados entre 2019 a 2022 no Alto Tietê não representa uma grande perda de área florestal em termos absolutos, mas pode causar outros efeitos ao meio ambiente.
“Em termos gerais, 32 hectares são apenas 0,03% (do total de vegetação). Mas dependendo de que tipo de floresta e onde essa floresta foi perdida, possui diferentes impactos sobre a biodiversidade da região, assim como processos ecológicos, como polinização, dispersão de sementes, movimentação dos organismos e funcionamento do ecossistema, como o ciclo da área, em termos de reabastecimento dos mananciais”, disse o pesquisador.
Serra do Itapeti, em Mogi das Cruzes
Reprodução/TV Diário
O município de Itaquaquecetuba, por exemplo, possui uma área de 8.262 hectares e uma área de floresta de apenas 213,2 hectares. Entre 2019 e 2022, a cidade teve 7,86 hectares desmatados. Para o pesquisador, por causa das características do município, os números causam um impacto maior nesta cidade.
“Cerca de 3,69% de floresta, ou ainda, uma perda de cerca de dez campos de futebol, concentrando cerca de um quarto da perda de floresta. Dado que esse município possui uma densidade de habitantes alta (4720 hab./km²; do Estado de São Paulo é de 188 hab./km²), isso pode ter grandes impactos sobre as pessoas e sobre os ecossistemas”.
A maior incidência de alertas de desmatamento na região foi identificada no segundo semestre dos anos observados. O mês com maior número de registros foi setembro, com sete. De acordo com Vancine, o padrão de incidência dos alertas podem ser analisados por alguns contextos, como o de alterações na legislação ambiental no país.
“Os desmatamentos nesse período podem estar associados a diversos fatores, que precisam ser analisados sob duas perspectivas, a meu ver. A primeira, um fator amplo: nesse período tivemos uma mudança drástica das políticas ambientais, com afrouxamento de leis e da fiscalização, isso numa esfera federal, que teve seus impactos sobre as esferas estaduais e municipais. A segunda, um fator local: como as atividades econômicas ocorreram nesse período na região. E isso precisamos analisar novamente em termos do comportamento das pessoas e empresas locais em resposta à mudança da conjuntura da política ambiental, mas também, e ressalto isso, em termos da pandemia. Outro ponto também é que possivelmente as fiscalizações e denúncias devem ter diminuído com a pandemia”.
Recentemente, a lei 11.428/2006, conhecida como Lei da Mata Atlântica, voltada à preservação do bioma, esteve em debate na Câmara dos Deputados e no Senado. Deputados incluíram na medida provisória 1.150/2022, da gestão Bolsonaro, que estabelece mudanças na legislação referente ao bioma, um trecho que afrouxa a proteção das áreas verdes da Mata Atlântica. O dispositivo foi retirado pelo Senado, mas foi reinserido em nova votação na Câmara na última semana. A partir de agora, a MP vai à sanção presidencial.
O ecólogo acredita que, caso a MP seja sancionada, haverá um retrocesso nas políticas de preservação do bioma, que atualmente possui apenas cerca de 12% de sua área original.
“A Lei da Mata Atlântica, conseguiu, de modo geral, frear o desmatamento na Mata Atlântica de 100.000 ha/ano para 11.000 ha/ano. Apesar de ter aumento para 20.000 ha/ano desde 2019, mesmo com a validade da Lei da Mata Atlântica, a Medida Provisória 1.150/2022 pode aumentar e muito esse desmatamento, tendo impactos diretos sobre a população brasileira, em termos de recursos hidrológicos, mas também em termos de tragédias, como a que aconteceu no início do ano no Litoral Norte de São Paulo, pois a proteção da floresta tende a diminuir os desmoronamentos das encostas”, finalizou.
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