Contadores de Mentira vive impasse com Prefeitura de Suzano sobre uso de área de teatro


Grupo alega que poder público pediu de volta o terreno. Já a Prefeitura afirma que falta prestação de contas por parte do grupo. Grupo Contadores de Mentira vive impasse sobre sede
O grupo Contadores de Mentira vive um impasse com a Prefeitura de Suzano. O grupo, que faz um extenso trabalho na área cultural, está inseguro em relação a continuidade do projeto. Tudo porque a Prefeitura pediu de volta a área cedida para o Contadores de Mentira. Segundo o poder público existe a falta de prestação de contas por parte do grupo. Já o Contadores de Mentira alega falta de diálogo por parte da Prefeitura.
O espaço é usado para várias manifestações artísticas, shows, peças teatrais, espetáculos de dança. O grupo Contadores de Mentira foi criado há quase 30 anos em Suzano e já se tornou uma referência de arte em todo o Alto Tietê. “A gente já construiu relações, relações institucionais, relações de afeto. Então, quando a gente está no bairro aqui, a gente criou vínculos. E esses vínculos vem de onde? Quando, por exemplo, a gente trabalha com as pessoas desassistidas, quando a escola vem até aqui a gente está fazendo um serviço com a comunidade. Um aspecto do grupo de teatro vai além das camadas de apresentações. Isso é uma parte do que a gente faz. A outra parte consiste em atender as pessoas quando tem enchente no bairro. É a gente que tá lá. Quando tem um feminicídio é a gente que procura as famílias. Quando tem assassinato de pessoas trans é a gente que está lá, fazendo esse movimento. Então, toda uma camada de cultura vai ficar desasistido se Os Contadores agora, que deveriam ser considerados um patrimônio da cidade, tiver que ir embora por falta de condições”, explica Claiton Pereira que é fundador e gestor do grupo.
Outra gestora do grupo, Daniele Santana, lembra que todo o investimento feito no teatro foi do grupo e contando com doações. “Nós mesmos investindo, o grupo, através de doação. Muitas pessoas de grupo de teatro, artistas e família doaram mão de obra, doaram materiais de construção, fizemos vaquinha, toda busca de recurso para erguer esse prédio.”
Teatro Contadores de Mentira fica no Parque Maria Helena em Suzano
Kaique Calisto
Desde 2018, o Teatro Contadores de Mentira funciona em um espaço no Parque Maria Helena. O terreno, que pertence a Prefeitura, foi cedido por meio de um requerimento.
O local foi reformado pra receber o primeiro teatro de contâiner do Alto Tietê. O problema é que em abril deste ano, os gestores do grupo receberam da Prefeitura essa notificação de desocupação de espaço público.
No documento está escrito que o grupo deveria liberar o terreno até 1º de agosto deste ano. “Ao entrarmos em contato com a Secretaria de Cultura, a gente recebeu do gabinete do Prefeito assinado pelo secretário e prefeito em exercício Walmir Pinto uma ordem de desocupação do terreno que exigia que a gente desocupasse a área até agosto deste ano. A gente foi surpreendido com essa informação. Já que o prefeito Rodrigo tinha se comprometido em renovar. O decreto já traz no seu próprio corpo uma permissão de renovação por mais cinco anos sucessivas vezes. No entanto, a gente foi surpreendido no mês de abril quando fomos a Secretaria de Cultura manifestar o nosso desejo de renovação desse decreto. No ano passado, o prefeito Rodrigo Ashiuchi esteve aqui nesse espaço, visitando a casa e havia se comprometido conosco que iria fazer a renovação do decreto, quando chegasse no mês apropriado”, afirma Daniele.
Com a possibilidade de despejo, começou uma mobilização nas redes sociais para que o teatro não saísse do terreno. Joaquim Silva tem 13 anos é morador do bairro e artista. “O espaço em si é muito acolhedor, os eventos são maravilhosos. Eu me sinto a pessoa mais maravilhosa do mundo porque é o que eu gosto de fazer.”
Valdete da Silva Ramos mora perto e frequenta o espaço. Ela trabalha como voluntária em projeto social há mais de 30 anos. “Aqui, o teatro, é o único espaço ocupado aqui nesse bairro que realmente tem projetos culturais, que realmente abre as portas para a gente.”
No dia 30 de junho, a Prefeitura publicou no diário Oficial um decreto com a renovação da permissão de uso pelo período de seis meses. Mas para o grupo esse tempo causa insegurança, já que eles não conseguem programar atividades e contratos a longo prazo. “Se a gente perguntar para qualquer comerciante o que significa ter só seis meses de contrato, como é que ele produz projetos para o próximo ano, como é que ele vai buscar recursos. Se nós somos um grupos de teatro, que trabalha com cultura, nós dependemos de busca de recursos a longo prazo, nós dependemos de vários fatores para poder organizar. Não podemos pensar em seis meses para frente. A gente precisa de tempo”, destaca Claiton.
A Prefeitura diz que a mudança no prazo é por causa da análise de um documento de prestação de contas que o grupo deveria ter apresentado para a Secretaria de Finanças. “Eles deveriam fazer uma prestação de contas. O que eles fizeram foi apresentar um portfólio do grupo. Fotos, currículo, passeios dele por outros lugares, mas nós não temos de comprovação nenhuma nota fiscal, nenhum recibo, nenhum contrato de trabalho que eles alegam investimento. Eles alegam R$ 450 mil de investimento no espaço. Não tem uma comprovação disso. Na contrapartida, eles alegam 20% de ingressos de oficinas gratuitas. Não tem uma lista de presença, não tem uma cópia de ingresso de cartazes, dizendo que ofereceram gratuitamente para os moradores do local”, ressalta o vice-prefeito e secretário de Cultura, Walmir Pinto.
O secretário completa que esteve no local junto com o prefeito e que realmente o grupo pediu a renovação, mas foi avisado que era necessário cumprir todos os requisitos obrigatórios por lei. “E isso não é da cabeça do vice-prefeito e do prefeito é análise jurídica. Eles não fizeram e não há o que questionar. Prestem contas. O decreto, inclusive, nós já fizemos prorrogando o prazo. Já marcamos duas vezes para eles virem aqui assinar, quando falta 5 minutos para a reunião, eles mandam e-mail dizendo que não podem vir por conta de agenda.”
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