PM aposentado que se dizia ‘médium’ é condenado a mais de 100 anos de prisão por estupro e outros crimes


A mulher dele, que o acompanhava durante a prática dos crimes, foi condenada a mais de 40 anos de prisão. Casal atuava em um centro religioso em Salesópolis. Polícia encontrou velas, celulares, cadernos e peças de roupa no centro religioso do falso médium, em Salesópolis
Polícia Civil/Divulgação
A Justiça condenou um policial militar aposentado, de 61 anos, que se dizia “médium” a 104 anos de prisão em regime fechado e mais um ano e sete meses no semiaberto. O homem foi acusado de assediar e abusar sexualmente de mulheres que acreditavam em uma “cura espiritual”. A mulher dele, que o acompanhava nos atos, foi condenada a 44 anos no regime fechado e também um ano e sete meses no semiaberto.
O casal foi responsabilizado por crimes como estupro, violação sexual mediante fraude, curandeirismo e fraude processual. Eles atuavam em um centro religioso em Salesópolis, na Grande São Paulo. O resultado da sentença foi divulgado nesta quinta-feira (12).
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De acordo com o Ministério Público, os acusados cobravam pagamentos em troca da cura para diversas doenças. Os valores repassados pelos frequentadores variavam de R$ 10 a R$ 1,5 mil. A denúncia aponta que durante a noite, ao final dos trabalhos, era comum que o homem, sempre na companhia da mulher, selecionasse adolescentes ou jovens do sexo feminino para permanecer no espaço.
As vítimas, então, tinham as roupas retiradas à força e eram obrigadas a manter relações íntimas com o réu. Em muitos casos, os criminosos afirmavam que as práticas eram necessárias para a conquista de uma vida melhor.
Em janeiro de 2024, o homem foi preso. Antes disso, o casal destruiu sofás e cadeiras que ficavam no local onde os abusos eram cometidos. A finalidade era atrapalhar a futura investigação. Camisetas vendidas pelo casal foram queimadas para ocultar o vínculo com a atividade criminosa de curandeiros e também influenciar futuras decisões judiciais.
Entenda o caso
Em janeiro deste ano, em entrevista à TV Diário, o delegado Ricardo Glória afirmou que a suspeita era de que o centro religioso do falso médium exista desde 2017. Ele disse que cinco vítimas tinham sido identificadas na época (leia o depoimento de duas vítimas abaixo). Todas seguiam um perfil parecido: jovens e de baixa renda.
“Na casa dele, em um porão escuro sob a luz de velas, ele fazia as ‘incorporações’. Já no estabelecimento comercial – que ele era proprietário – eram feitas cirurgias espirituais, mediante o recebimento de dinheiro”, disse o delegado.
Suspeito de abuso sexual é preso em Salesopolis
Segundo Glória, o suspeito não tinha alvará de funcionamento, nem CNPJ e nenhuma autorização de alguma associação ligada à atividade religiosa que alegava praticar.
“Existe a suspeita de que antes de ele [o centro religioso] funcionar em Salesópolis, ele também atuava em Biritiba Mirim. Há suspeita de que outras vítimas, tanto de Biritiba Mirim quanto de Salesópolis, possam denunciá-lo em algum momento”, concluiu.
Durante a investigação, a Polícia Civil apreendeu vários celulares, cadernos, velas e até peças de roupa que estavam no local em que ele atuava.
PM aposentado que se dizia ‘médium’ é preso por suspeita de assédio e abuso sexual de mulheres na Grande SP
Vinícius Silva/ TV Diário
O que disseram as vítimas do falso médium?
A primeira vítima, de 26 anos, contou que conheceu o policial militar aposentado em 2020, quando começou a trabalhar em um mercado de bairro de propriedade do suspeito. Ela relatou que, além das atividades espirituais acontecerem no centro religioso, que fica nos fundos da casa em que o suspeito mora com a esposa e três filhas, parte das sessões eram feitas no próprio mercado. Por conta disso, ela acabou se interessando pelo tratamento espiritual e começou a frequentar o centro.
De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima disse que, em meados de agosto de 2022, teve um desentendimento com o marido e decidiu desabafar com uma entidade chamada “João Caveira”, que estaria incorporada no suspeito. Durante essa conversa, o homem que dizia estar incorporado afirmou que a vítima “se apaixonaria por um homem de olhos verdes”.
Dias depois, a mulher disse que a suposta entidade a mandou ficar até o final de outra sessão porque ela precisava dar um beijo no suspeito. Em troca, a jovem receberia “benefícios” não só espirituais, mas também materiais, como carro, faculdade paga, cabelos e unhas pagos e dinheiro. Entretanto, a vítima não beijou o suspeito.
Em outro momento, a jovem foi abordada mais uma vez pelo policial militar. Na ocasião, a situação aconteceu dentro do próprio mercado em que ela trabalhava e, também, o homem alegava estar incorporado por uma entidade diferente: uma mulher, “Tereza”. Segundo a vítima, a suposta entidade insistiu para que a mulher começasse a se relacionar amorosamente com o suspeito e que devia se “entregar” para ele – neste momento, a “entidade” apalpou as partes íntimas da mulher.
Após a vítima afirmar que não teria nenhum tipo de relação com o suspeito, de acordo com o boletim de ocorrência, o homem – que dizia estar incorporado – começou a ameaçá-la, dizendo, por exemplo, “vou acabar com sua vida e com a vida de seu filhos” e “vou fazer um trabalho para você nunca mais conseguir nada nessa vida” .
Em outubro de 2022, a jovem decidiu pedir demissão do mercado e se mudou para Biritiba Mirim com o marido. A mulher contou que, com o tempo, foi descobrindo casos semelhantes ao dela na cidade, até que, no começo deste ano, conheceu uma outra vítima do falso médium.
Essa segunda mulher, de 19 anos, contou que estava passando por problemas no relacionamento amoroso e, por conta disso, decidiu procurar ajuda espiritual. A entidade prometeu tratamento e cura espiritual, além de bens materiais, e, em troca, a jovem tinha que se relacionar sexualmente com o suspeito. Meses depois, o policial militar aposentado acabou estuprando a vítima, que estava vulnerável.
O policial militar aposentado foi preso nesta quinta por estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude, assédio sexual e curandeirismo. O caso foi registrado na delegacia de Salesópolis. Ele será encaminhado à Cadeia Pública de Mogi das Cruzes.
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