Vídeo mostra GCM disparando tiros em rua de Mogi das Cruzes em que jovem foi atingido no olho por bala de borracha


Bruno Henrique Gonçalves, de 22 anos, perdeu a visão após ser atingido por uma bala de borracha no último dia 16. Segundo secretário de Segurança de Mogi, Toriel Sardinha, guarda que atirou seguiu protocolo de segurança de uso da bala de borracha. Vídeo mostra GCM de Mogi das Cruzes atirando em rua do Parque Monte Líbano
Imagens que circulam nas redes sociais mostram um homem fardado com o uniforme da Guarda Civil de Mogi das Cruzes atirando em uma rua no bairro Parque Monte Líbano.
Segundo testemunhas, os tiros de bala de borracha foram disparados na última quarta-feira (16), mesmo dia em que Bruno Henrique Gonçalves, de 22 anos, foi atingido por uma bala de borracha no olho.
O jovem se recupera em casa depois de receber alta do hospital de Guarulhos, onde passou por uma cirurgia no olho esquerdo. Bruno foi atingido por uma bala de borracha em uma rua do Parque Monte Líbano, em Mogi, na noite do jogo entre São Paulo e Corinthians, válido pela semifinal da Copa do Brasil. Mesmo com a cirurgia, ele perdeu a visão do olho esquerdo. O secretário de Segurança de Mogi das Cruzes, Toriel Sardinha, lamentou o ocorrido e afirma que o protocolo de segurança para uso de bala de borracha foi seguido na ação da Romu.
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“Ah, está difícil. Enxergar com um olho só é diferente. Está sendo difícil. Graças a Deus minha família está me ajudando bastante. É bem dolorido, estou tomando bastante medicamento, mas estou seguindo”, disse o jovem, que trabalha como auxiliar de limpeza.
Sônia Maria Gonçalves, mãe do jovem, foi avisada da gravidade do caso por uma médica da Santa Casa de Mogi, onde o filho foi atendido pela primeira vez.
“Ela me chamou pra conversar e ela falou assim que o que tinha mesmo era um tiro de borracha. E quando ela abriu o olho do Bruno saiu tipo uma bola de gude, só que de borracha. Que provavelmente dessa vista ele não ia mais conseguir enxergar. Depois da cirurgia ninguém queria me falar nada. Mas aí minha nora foi me buscar no trabalho e aí ela começou a falar que o Bruno não ia enxergar mais, que ele perdeu a visão”.
O caso aconteceu na Rua Narciso Lucarini no Parque Monte Líbano em Mogi das Cruzes. Segundo testemunhas que não quiseram gravar entrevista, torcedores do Corinthians começaram uma briga. A Ronda Ostensiva Municipal (Romu), equipe especializada em operações táticas da Guarda Civil Municipal, chegou pelo lado esquerdo da rua.
Testemunhas disseram que ouviram vários tiros no local. Um dos disparos teria atingido o rosto do jovem. Os agentes também jogaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
Em entrevista a reportagem do Diário TV, Bruno Henrique conta pela primeira vez sua versão sobre que aconteceu.
“A gente estava assistindo o jogo lá. Já estava passando o jogo do Flamengo. Aí foi quando os guardas chegaram, foi só um carro. Eles saíram, quando eles saíram do carro já comecei a sentir o cheiro de gás, e aí “as turmas” tudo começou a correr. Aí eu comecei [a correr], junto com esse pessoal. Aí quando a gente estava chegando próximo de uma esquina, teve um amigo meu que falou ‘olha, vê se acha o Rafael, que ele estava com a gente e sumiu’. aí Foi a hora quando eu olhei pra trás. Quando eu olhei pra trás, eu só ouvi o ‘tuin”. E aí começou [a jorrar] sangue pra todo lado e eu não enxerguei mais nada”.
“Eles me socorreram, me ajudaram a ir pra um lugar, que foi na rua do Clube de Campo. Eles me sentaram lá e aí chegou um pessoal e começou me ajudar. Tentaram chamar a ambulância, só que a ambulância estava demorando muito. Aí foi a hora que eles chamaram o uber e foram comigo até a Santa Casa”.
Bruno Henrique diz que não lembra de onde veio o disparo que o atingiu. “Eu vi que eles estavam lá, só que eu não vi quem atirou. E só um carro também”.
A Secretaria Municipal de Segurança informou que a Romu foi chamada ao local para atender diversas reclamações, como via obstruída, aglomeração, pancadões, motos empinando na contramão, além de tráfico de entorpecentes. A nota diz ainda que o protocolo de uso de armas não letais foi rigorosamente observado pelos guardas municipais, que mantiveram uma distância de segurança e direcionaram os disparos para a linha abaixo da cintura.
Em um vídeo a que o Diário TV teve acesso é possível ver um tumulto na rua, com pessoas correndo em meio a carros e motocicletas. Outra imagem com a rua mais vazia, um homem fardado, aparece apontando uma arma e efetuando um disparo.
A família de Bruno Henrique já constituiu um advogado para cuidar do caso e quer que as responsabilidades sejam apuradas.
“As imagens são muito claras. Elas contrapõem a nota da prefeitura que diz que houve ali o atendimento aos protocolos pra utilização de armas não letais. Esse vídeo demonstra claramente o contrário. Não havia nenhuma situação de tumulto, nenhuma situação de enfrentamento aos guardas e mostra, claramente, que houve disparos a esmo, que causou justamente essa tragédia”, explica o advogado Marco Soares.
Ele afirma ainda que vai trabalhar pela apuração das responsabilidades para identificar quem fez o disparo. “Demonstrando claramente a responsabilidade civil da Prefeitura para que isso não venha ocorrer novamente com outros jovens. Não houve situação de tumulto, nem de confusão, e os guardas já chegaram com spray de pimenta e dando tiros a esmo naqueles jovens. Posteriormente ao incidente, não houve o socorro a esse rapaz, ele teve que ir por caminhos próprios até a Santa Casa para ser socorrido. E posteriormente os próprios guardas então se apresentaram à delegacia para identificar a autoria. Ou seja, são muitos os erros que nós devemos apurar para justamente imputar essas responsabilidades.”
Soares detalha que pretende habilitar um inquérito criminal e também promover uma ação indenizatória contra a Prefeitura. “O objetivo é justamente compeli-la, obriga-la a dar o treinamento adequado a estes policiais pra que este tipo de tragédia não volte acontecer.”
“Eu espero justiça, seja feita a coisa certa”, disse Bruno Henrique.
Já a mãe do jovem espera que o filho resgate a confiança para seguir em frente. “Eu quero mesmo que o meu filho se reerga, que ele consiga passar essa fase. Eu quero que ele passe por isso, que ele se sinta o Bruno bonito, lindo como ele é”.
Imagens de câmera de monitoramento mostram pessoas correndo perto do local onde o jovem foi baleado
TV Diário/Reprodução
Ação da Romu
Em entrevista ao Diário TV, o secretário de Segurança de Mogi das Cruzes, Toriel Sardinha, lamentou o ocorrido com o jovem Bruno Henrique. Segundo o responsável pela pasta, o protocolo de segurança para uso de bala de borracha foi seguido na ação da Romu.
“Primeiramente, a gente manifesta profundo pesar sobre o que aconteceu. Realmente, houve uma situação de confronto com a Guarda Municipal. Nós temos imagens tanto do sistema de monitoramento, como também das empresas, dos estabelecimentos ali ao redor que, numa primeira análise, demonstram que a Guarda Municipal foi atacada com garrafas de cerveja e também com pedras e outros artefatos. E o guarda municipal que estava seguindo o protocolo de segurança de uso do elastômero, que é a bala de borracha. Estava a mais de 20 metros, e ele fez um disparo contra um grupo que estaria atacando essas garrafas. E as imagens demonstram nitidamente”, explica Sardinha.
Para o secretário de Segurança um dos disparos do guarda ricocheteou e, consequentemente, atingiu o rosto de Bruno Henrique. “Na verdade, como ele estava numa distância a mais de 20 metros, e isso as imagens deixam bem claro, ele estava apontando pra esse grupo que estaria atacando a Guarda Municipal, ele fez um disparo que pegaria da cintura para baixo. Porém, tudo leva a crer que houve um ricocheteio desse projétil de borracha e acabou, infelizmente, atingindo a vítima, que estava há mais de 50 metros do local. Então, fica demonstrado nitidamente que o guarda não atirou diretamente sobre a vítima, então ele não tinha intenção de acertar a vítima. Porém, ao atirar na direção desse grupo pra dispersar, pra cessar aquela agressão, acabou ricocheteando e acertando”.
O secretário de Segurança reforça que a Guarda Municipal frequentemente recebe denúncias de crimes após aglomerações no local e que, no dia do incidente, o objetivo foi dispersar a multidão que estava na rua.
“A população ao redor, eles ligam muito pro 153, pedem a presença da Guarda pra tentar conter. São motos estourando escapamento, carros na contramão, carros de som com o som muito alto, tráfico de drogas, violência. Todo tipo de coisa que a pessoa que está no ambiente está se colocando em risco. Isso fica evidente nas nossas ações porque o local já é complicado. Quando a população não aguenta, que chama a Guarda Municipal, que a Guarda vai pra intervir, a intenção é dissipar essa multidão, de forma mais pacífica possível. Mas a partir do momento que há uma agressão contra um guarda municipal, ele tem que se proteger e, por isso, que tem essa munição que ela não visa causar o dano que causou. Foi instaurado um procedimento pra averiguar os pormenores do fato e verificar o que aconteceu com esse caso.”
Questionado sobre a identificação do tiro de bala de borracha que atingiu Bruno Henrique, Sardinha afirma que a pasta já reconheceu o guarda responsável pelo disparo. “Esse tipo de munição ele não dá pra fazer um confronto balístico, que é a perícia técnica que dá pra ver de qual munição saiu. Mas a gente, pelas imagens, sabe que realmente saiu da arma desse guarda municipal que, há princípio, agiu legitimamente. É claro que, após toda a investigação, se ficar provado qualquer tipo de excesso, o responsável ele deve responder. Mas a gente analisando as imagens, inicialmente verifica que ele não apontou diretamente na pessoa que foi atingida e houve o ricocheteio dessa munição”.
Apesar de ser atingido por uma bala disparada pelo Guarda Municipal, o jovem não foi socorrido pelos agentes. No entanto, o secretário assumiu que a força de segurança sempre deve prestar socorro a possíveis vítimas durante as ações.
“Até mesmo com o uso de projétil real. Se alguém é atingido, a Guarda tem que socorrer. Porém, no dia, ninguém falou nada. As imagens que eu trouxe deixam claro que ele [jovem que foi atingido] sai em sentido contrário de onde a Guarda estava, e a Guarda estava a mais de 50 metros do rapaz. Eles efetuaram ali, dissiparam aquela multidão e se retiraram, depois que estava tudo tranquilo. Somente depois de algumas horas que foi informado que havia uma pessoa ferida na Santa Casa. Nesse momento, nós mandamos uma viatura pra verificar o que aconteceu, tanto que foi a Guarda Municipal que apresentou a ocorrência na delegacia pra tomar as providências”, conta o secretário de Segurança de Mogi.
Toriel Sardinha afirma que o advogado Marcos Soares mente quando fala que não foi seguido o protocolo. “Primeiramente, os guardas desceram sem as armas longas, tentando dissipar aquela multidão que estava causando aquele tumulto. A partir do momento que eles foram agredidos, e as imagens deixam bem claro isso, que foi tacada garrafa neles, que foram tacadas garrafas de cerveja neles, que pega a arma não letal, frise-se, a munição não letal que foi utilizada pra dissipar aquela multidão, e apontado pra esse grupo que estava atacando a Guarda Municipal. O rapaz estava em outro ponto, onde ele foi atingido”.
Durante a entrevista para o Diário TV o secretário municipal de Segurança assumiu a responsabilidade da ação da Romu no dia do incidente com Bruno Henrique. De acordo com Sardinha, apesar da abertura de sindicância para investigação por parte da corregedoria, o guarda que efetuou os disparos não será afastado da GCM.
“A gente instaurou uma sindicância. A investigação está sendo feita pela corregedoria. Todas as imagens estão sendo trabalhadas. A Polícia Civil também instaurou o inquérito pra verificar essa questão criminal. Todos os pormenores serão esclarecidos. Os guardas, a princípio, como as imagens deixam claro que ele não mirou diretamente nessa vítima, ele estava atirando em outro grupo que estava atacando a Guarda, ele não vai ser afastado. Tem total apoio da Secretaria de Segurança e da minha pessoa. Eu dei a ordem pra ação. E se tiver algum excesso, alguma coisa, ele vai ser responsabilizado. Apesar de que a ordem também foi minha, se tem alguém que deve ser responsabilizado nesse caso sou eu. Eu assumo a responsabilidade da ação e a gente vai verificar todos os pormenores do caso”, finaliza.
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