Mogi e Suzano estão entre cidades com maiores taxas de desperdício de água no Alto Tietê, diz pesquisa


Levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil mostra o índice de perda de água durante o processo de distribuição. As taxas de perda das cidades estão em 48,65% e 26,14%, respectivamente. Alto Tietê teve 148 internações por doenças transmitidas por água contaminada em 2021
Mogi das Cruzes e Suzano estão entre as cidades do Alto Tietê que mais têm desperdício de água durante o processo de distribuição, segundo um levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil. As taxas de perda das cidades estão em 48,65% e 26,14%, respectivamente.
Um exemplo de quem sofre com essa perda de água são os moradores do bairro Volta Fria, em Mogi das Cruzes. Como o local não tem saneamento básico, as pessoas precisam encontrar uma forma de conseguir água e torcer para que ela não traga malefícios à saúde.
Em nota, o Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae) informou que só pode garantir a potabilidade da água distribuída pela autarquia e que os poços particulares são de responsabilidade dos proprietários.
“Nunca fiquei doente por pegar água do poço. Teve uma vez que tentamos tratar [a água], não deu certo e eu fiquei passando mal depois. Tenho um pouco de medo porque eu não sei o que consumir essa água pode causar”, diz a estudante Bárbara Silva Costa Pedro.
A líder do bairro Vera Lúcia da Silva Ferreira explica que, pensando na prevenção de doenças, pediu para que a Prefeitura colocasse caixas d’água no local, para abastecimento das famílias. Entretanto, o pedido não foi atendido. “Eles acham que somos pessoas que não têm documentação, que não paga imposto para a Prefeitura… Então acabamos abandonados”, lamenta.
A presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Preto, relata que em Mogi, o volume de perda está maior do que a média nacional considerada pelo órgão, que é de 40%. Esse dado indica que a cidade precisa priorizar a redução de perdas, para que o município consiga atingir o índice de 25% até 2034, que é a meta estabelecida pelo Ministério de Desenvolvimento Regional. Já a taxa registrada em Suzano mostra que a cidade está investindo em redução de perdas e está conseguindo um bom índice quando comparado com a média nacional.
“É importante entender que é uma água tratada que está sendo perdida, ou seja, foram utilizados produtos químicos para o tratamento dessa água, foi utilizada energia elétrica para a distribuição… Isso acaba refletindo na tarifa que é cobrada para o cidadão”.
O valor de água tratada desperdiçada em 2021 equivale a cerca de 8 mil piscinas olímpicas ou sete vezes o volume do Sistema Cantareira. O volume seria suficiente para abastecer aproximadamente 67 milhões de brasileiros por ano.
“Nós temos um tipo de perda [de água] que é a perda física, que acontece por vazamentos – temos, inclusive, o vazamento visível, que é aquela água que fica acumula em canaletas ou valas, e o vazamento não visível, que fica por baixo do pavimento. Temos as perdas comerciais, que são os furtos e erros de medição ou, ainda, os ‘gatos’. Para evitar, é necessário ter um plano estruturado de redução de perdas, é necessário que esse tema seja priorizado com investimentos constantes, seja com a agilidade da identificação e conserto dos vazamentos”.
Ainda sobre a Volta Fria, o Semae disse que fez um estudo preliminar que constatou que seria necessária inicialmente a extensão de aproximadamente 6km de rede de água e um custo estimado de R$ 6 milhões para atender cerca de 250 pessoas.
Tendo em vista esse ponto, o órgão alegou ser necessário priorizar obras com maior abrangência populacional. Em relação ao combate às perdas, informou que executa diversas ações.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou, em nota, que as perdas no município estão abaixo da média nacional e que, desde 2009, executa um programa de redução de perdas, que inclui pesquisa de vazamentos não visíveis.
Alto Tietê teve 148 internações por doenças transmitidas por água contaminada
Reprodução/TV Diário
Doenças hídricas
O Instituto Trata Brasil ainda não divulgou os dados do ano passado. Segundo a organização, o levantamento deve ser divulgado em dezembro deste ano.
Em 2021, o Alto Tietê registrou 148 internações por doenças provocadas por causa da má qualidade da água. Das dez cidades, Biritiba Mirim foi a única que não registrou internações e nem óbitos. Entretanto, três municípios se destacaram pelos altos índices:
Mogi das Cruzes
42 internações;
Duas mortes.
Itaquaquecetuba
33 internações;
Duas mortes.
Santa Isabel
24 internações;
Uma morte.
Após questionamento sobre a alta taxa de internações e mortes, Mogi das Cruzes disse que doenças de veiculação hídrica têm uma definição abrangente e não diz respeito apenas a beber água não potável, mas a qualquer contato com água contaminada. Segundo o Semae, 99% da área urbana da cidade é atendida por rede de água tratada.
A Sabesp, responsável pelo saneamento em Itaquaquecetuba e Santa Isabel, falou que investe continuamente na ampliação dos serviços em todos os municípios que atende e é responsável sozinha por cerca de 30% do total de investimentos em saneamento no país.
O que diz um especialista?
Além da entrevista com a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Preto, a equipe de produção da TV Diário também conversou com a médica Lorena Balestra, que explicou que a água inapropriada para consumo pode transmitir várias doenças, como cólera, hepatite A, diarreias infecciosas, verminoses e até leptospirose.
“Consumir água de mina ou de poço acaba sendo mais perigoso quando você está mais próximo da cidade porque, se o lençol freático estiver contaminado, ele pode contaminar a água desse poço. Quando as pessoas moram em fazendas ou sítios, talvez o lençol freático ainda possa estar limpo”.
Alguns dos sintomas em caso de consumo de água contaminada são: náuseas, vômitos, dores abdominais, febre, fadiga, erupção cutânea e icterícia.
Segundo a médica, para garantir a limpeza da água, o recomendado é ferver por, no mínimo, um minuto. Além disso, há a possibilidade de filtrar e, até mesmo, desinfecção – com iodo ou cloro próprios para este fim, que são vendidos em supermercados e outros estabelecimentos.
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