Itaquaquecetuba registra quatro casos suspeitos de intoxicação por drogas K no primeiro semestre do ano


Segundo levantamento com as prefeituras do Alto Tietê, apenas o município prestou atendimento a pacientes com suspeita de K2, K4 ou K9. Segundo Wilson Malfará, doutor em Toxicologia, drogas K são canabinóides sintéticos, mas não devem ser chamados de “maconha sintética”. Apreensão de drogas K dá salto de quase 350% nos últimos 3 anos em São Paulo
Jornal Nacional/ Reprodução
A rede pública de saúde de Itaquaquecetuba registrou quatro casos suspeitos de intoxicação por drogas K (K2, K4, K9 ou K12) no primeiro semestre do ano, segundo a Secretaria de Saúde do município. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo g1 com as prefeituras do Alto Tietê.
A Secretaria Municipal de Saúde de Itaquaquecetuba ainda disse que, por ser uma droga nova, não houve registro nos anos anteriores.
Por outro lado, Arujá, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Suzano informaram que não registraram casos suspeitos de intoxicação por canabinoides sintéticos na rede pública municipal. Já as prefeituras de Biritiba-Mirim, Poá e Salesópolis não responderam aos questionamentos.
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Claudia Castelo Branco/g1
O que são drogas K?
Na capital paulista, a quantidade de casos suspeitos de intoxicação por drogas K dobrou de maio até o início de junho.
De acordo com Wilson Malfará, doutor em Toxicologia, perito judicial na área de Toxicologia Forense e professor universitário, as drogas K chegaram ao mercado para uso ilícito por volta dos anos 2000.
“São produtos sintéticos, são sintetizados através de produtos químicos, uma mistura deles. Na verdade, não há, nós não encontramos, algo que seja fiel com relação aos constituintes necessariamente presentes nos K, em todos eles, seja K2, K4, K9 – agora até existe alegação até do K12 -, que representam, na verdade, a mesma substância. Tratam-se de canabinoides sintéticos, essa é a classificação das substâncias”, disse.
Segundo Malfará, as nomenclaturas K2, K4 e K9, caracterizam diferenças entre esses canabinoides sintéticos. Além disso, segundo ele, é importante ressaltar que nomear as drogas K de “maconha sintética” é um erro.
“As diferenças observadas são relacionadas, principalmente, à potência, a potência dos ativos presentes em cada uma delas. E também, uma outra diferença que é importante mencionar, é a via de utilização. Então, por exemplo, o K2 foi o primeiro sintético que chegou. O K2 era utilizado, por que como eles fazem? Eles fazem um aerossol da substância e eles pulverizam uma erva. E esta erva, no caso do K2, ela pode ser fumada, inclusive pra mimetizar a principal via de utilização da cannabis, que é fumada”.
K2, K4 e K9 são nomes diferentes dados à mesma droga. A substância pode ser consumida:
em papel borrifado com a substância;
em selo, micropontos;
inalado direto da pipeta;
misturado em ervas para fumo em cigarro;
ou sais para inalar.
“É importante frisarmos que os K’s, 2, 4, 9, às vezes a gente enxerga, assim, na mídia, uma veiculação de que são substâncias relacionadas a uma maconha sintética. Não é isso. Essa terminologia inclusive é errônea. São canabinoides sintéticos. Porque aí nós podemos separar três categorias existentes desse conjunto de substâncias. Uma das categorias nós temos, nós produzimos. A substância representante é a anandamida. Então, isso é um canabinóide endógeno, é nosso. O segundo grupo são os fitocanabinoides. Esses são os presentes na planta, na cannabis sativa. E o terceiro grupo são os sintéticos, que não tem absolutamente nada a ver”.
Malfará afirma que, as drogas, em geral, possuem o chamado “potencial de reforço”, que é a vontade que o usuário tem e sente em usar novamente a substância, por vezes, uma vontade imediata. No caso das drogas K, o “potencial de reforço” é alto e a indução à dependência é muito alta, o que pode desencadear diversos sintomas no corpo.
“Esse potencial é o grande responsável pelo desenvolvimento de quadros psiquiátricos gravíssimos, psicoses, crises de ansiedade e de pânico, alucinações, agitação psicomotora e de uma forma geral, euforia. E além dessas situações que são desencadeadas diretamente pela substância, pelos K’s, de uma maneira geral, nós vemos, na verdade, uma piora de situações clínicas, às vezes, como crises convulsivas, AVE, acidente vascular encefálico, déficit cognitivo e de memória, aumento de pressão arterial, taquicardia, infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal e, até mesmo, óbito, com certeza, como consequência de todas essas alterações. Então, é um conjunto difuso de sinais e sintomas que a substância provoca”.
Cidades do Alto Tietê também tem registrado apreensões de drogas K. Em junho, a Polícia Militar apreendeu 208 porções de K2 dentro de um depósito de drogas em Biritiba-Mirim.
“A gente sabe que existem políticas públicas lançadas, por uma série de coisas, e a gente vê isso sempre na mídia, mas as coisas precisam acontecer, não dá pra ficar só na retórica e na conversa em sala de reunião. Isso aí tem que expandir, isso aí tem que chegar na população, não dá pra ficar nessa maneira. Então, quer dizer, eu faço aqui um apelo, até, aos governos, aos meios que, na verdade, tem acesso a uma questão de uma política pública fiel, com pessoas capacitadas. Nós temos tantos profissionais capacitados nesse país, tantas pessoas que trabalham, assim, com afinco, e, tenho certeza absoluta, fariam muito bem esse tipo de trabalho e de vínculo”, finalizou.
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