Governo de SP vai fechar mais de 300 classes de escolas no estado; sindicato aponta sucateamento do ensino e superlotação


Segundo a Secretaria da Educação, os alunos não vão ser transferidos de escolas e turnos e o que vai haver é um redimensionamento de 0,3% de 104 mil classes (312). Na avaliação da Apeoesp, a gestão de Tarcísio de Freitas quer promover ‘reorganização disfarçada’ e ‘quanto mais cheia é uma sala de aula, menos humanizado é o aprendizado’. Alunos de escolas públicas do litoral de SP se preparam para voltar às aulas até a próxima semana
Prefeitura Praia Grande/Divulgação
O governo de São Paulo deve fechar cerca de 300 classes de escolas estaduais. Levantamento do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), entretanto, aponta que o número é ainda maior: 326. Apenas nove das 35 regiões do estado não devem ser atingidas pela medida.
Segundo a Secretaria da Educação, os alunos não vão ser transferidos de escolas e turnos, e o que vai haver é um redimensionamento de 0,3% de 104 mil classes (312). “Se ao final de cada bimestre, constatar o aumento ou diminuição da demanda escolar, a Diretoria de Ensino deverá reavaliar e proceder ao devido redimensionamento”, diz. (veja nota completa abaixo).
Para a Apeoesp, a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer promover uma “reorganização disfarçada” e afirma que esse movimento pode causar o fechamento de escolas e não apenas das classes.
De acordo com o levantamento do Sindicato, Araras é a região com mais escolas afetadas: 36 classes de 18 escolas serão fechadas
Em segundo lugar está Osasco, na Grande São Paulo, onde 9 escolas devem ter redução de classes.
Presidente da Apeoesp, a professora Bebel condena da medida e alerta para o risco de sucateamento em um momento ainda mais delicado para quem atua na rede pública.
“Quanto mais cheia é uma sala de aula, menos humanizado é o aprendizado”, defende. “A escola precisa de espaço e de contato com os alunos para trabalhar temas como ataques”.
A lotação das classes não deve passar o determinado por resolução, que varia de 30 a 45, dependendo do ano do ensino fundamental ou médio.
Segundo o sindicato, o fechamento poderá implicar em:
Salas de aula mais cheias e, por isso, menos humanizadas
Supercarga de trabalho dos professores, que resulta em professores mais estressados
Alunos mais dispersados na sala de aula, porque um professor não consegue dar atenção e ter o controle sobre muitas pessoas de uma só vez
Menos liberdade para ensinar, porque atividades mais complexas como dissertações e redações levam mais tempo para serem produzidas e corrigidas, então um modelo mais rápido é escolhido
Demissão de professores
“A qualidade de ensino tem a ver sim com a quantidade de alunos presentes em sala de aula. A denúncia que recebemos é que tem escola com 19 alunos, com 21, com 15 e que, simplesmente, as diretorias de ensino, através do sistema, fecham a sala e obrigam as escolas a realocar os alunos em outras salas de aula”, explica integrante do sindicato da Zona Sul de SP.
Os alunos da Escola Estadual Tiago Alberione, na Zona Sul da capital paulista, fizeram um abaixo-assinado contra o fechamento das salas. Segundo um dos alunos, “estão querendo fechar 4 salas. Teria uma reunião com o dirigente, mas o mesmo saiu.” Uma nova dirigente já está no comando.
No enunciado do abaixo-assinado está escrito “se manifestem contra as ameaças de fechamento de classes da escola estadual Padre Tiago Alberione. Os docentes da mesma unidade escolar, compreendendo que tais ameaças, oriundas da diretoria de ensino através da supervisão, se configuram como ataques aos interesses da comunidade escolar e a escola pública.”
Em Sorocaba, no interior do estado, duas classes devem ser fechadas na Escola Estadual Júlio Prestes de Albuquerque, segundo o levantamento do sindicato. A unidade já convive com lotação de salas e insatisfação dos alunos com relação ao modelo de aprendizagem.
“Há classe superlotada de itinerário formativo com 50 estudantes de humanas e 40 em turma de exatas. Os estudantes foram informados que serão remanejados 5 de Humanas para Exatas para igualar o número de estudantes por turma, o que gerou grande insatisfação, pois suas escolhas não estão sendo respeitadas. Por outro lado, os professores que ficaram ministrando as aulas do Ensino Médio estão precisando se desdobrar com até 8 componentes distintos, possuindo apenas uma única formação, entre muitos outros problemas”.
O Apeoesp afirma que houve diálogo com “dirigentes da Educação nas regiões, que em alguns casos consideraram a argumentação do Sindicato” e que tentam uma reunião com o governo do estado desde fevereiro, sem sucesso.
O que diz a secretaria da Educação
Questionada pelo g1, a Secretaria Estadual de Educação confirmou o fechamento de 300 turmas e afirma que “as classes serão incorporadas em outras da mesma unidade, não ultrapassando critérios das Resoluções SE nº2/2016”:
30 alunos para as classes dos anos iniciais do ensino fundamental;
35 alunos para as classes dos anos/séries finais do ensino fundamental;
40 alunos para as classes de ensino médio;
45 alunos para as turmas de educação de jovens e adultos, nos níveis fundamental e médio.
A secretaria informou que quer tentar manter até 30 alunos por classe. O sindicato defende que as turmas deveriam ter 25 estudantes por sala de aula e ressalta que é necessário avaliar outros critérios, como o tamanho da sala de aula e a composição, ou seja, a diversidade no ambiente.
Fechamento de salas e o levante estudantil
Estudantes dentro da escola Fernão Dias Paes, em Pinheiros, em protesto de 2015 contra o fechamento de classes
Hélvio Romero / Estadão Conteúdo
Essa não é a primeira vez que o governo de São Paulo tenta fechar classes nas escolas públicas. Em 2015, a Secretaria Estadual de Educação anunciou no dia 23 de setembro uma nova organização da rede estadual de ensino paulista com o objetivo de separar as escolas para que cada unidade passasse a oferecer aulas de apenas um dos ciclos da educação (ensino fundamental I, ensino fundamental II ou ensino médio), a partir de 2016.
A proposta gerou protestos de estudantes e pais porque previa o fechamento de 93 escolas, que seriam disponibilizadas para outras funções na área de educação. Os pais reclamaram da transferência dos filhos para outras unidades de ensino. A mudança atingiria ainda 74 mil professores.
Em 14 de novembro, as escolas ficaram abertas para receber pais e alunos e tirar dúvidas sobre a reestruturação. O dia foi chamado de “Dia E” pela Secretaria da Educação. A pasta também criou um sistema online de consulta sobre a matrícula do próximo ano.
Estudantes começaram a ocupar escolas em 9 de novembro, uma segunda-feira, em protesto contra a reestruturação. Quatro dias depois, na sexta-feira (13), 196 escolas estavam ocupadas, segundo a Secretaria da Educação. O número chegou a cerca de 200 escolas ocupadas.
A primeira escola a ser ocupada foi a Escola Estadual Diadema, no ABC. No dia seguinte, alunos ocuparam a escola Fernão Dias, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Um grande número de policiais militares foi deslocado para a unidade de ensino na capital paulista. Houve tumulto em algumas ocasiões.
O movimento se saiu vitorioso e o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu suspender a reestruturação. Os estudantes permaneceram em suas unidades em 2016.
* Sob supervisão de Cíntia Acayaba

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