“Nossa luta não é contra o branco. É por direitos para um povo que construiu esse país”, diz ativista


No Dia da Consciência Negra, Lindemberg Aguimar Alves afirma que em Mogi das Cruzes faltam projetos que atendam a população negra. Alves é pedagogo, sacerdote de candomblé, ativista e coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU). Atvista atuante em Mogi das Cruzes, Lindemberg Alves diz que a cidade precisa de políticos que lutem pela população negra
Reprodução/Redes Sociais
“Quinhentos anos de Brasil e o Brasil aqui nada mudou” é o que canta Mano Brown na música “A Vida É Desafio”, do grupo Racionais MC’s, lançada há mais de 20 anos. A música é um clássico e a letra – infelizmente – continua muito atual.
Mogi das Cruzes tem 462 anos e pouco evoluiu quando se fala em políticas públicas voltadas para a população negra, observa Lindemberg Aguimar Alves. Ele é pedagogo, sacerdote de candomblé, ativista e coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU).
“Nós precisamos ser representados por pessoas que saibam o seu papel. A nossa luta não é contra o branco. É uma luta por direito de oportunidades para um povo que construiu nossa terra, um povo que construiu esse país e mesmo assim não é marcado na história da cidade, a não ser em relatos de sofrimento”, reivindicou.
E para que esse cenário mude, os caminhos são inúmeros: representantes atuantes na Câmara Municipal, mais atenção da Prefeitura e maior conhecimento por parte da população. Pensando nisso, Lindemberg tem solicitado a realização de uma audiência pública no legislativo mogiano, para dar início – com atraso – a um debate na cidade.
Leia Também
Talentos pretos são resistência na arte independente do Alto Tietê
Consciência Negra: cidades do Alto Tietê têm programação gratuita no mês de novembro; veja a programação
‘Achei que depois de velha isso não ia acontecer mais’, diz mulher que denuncia racismo em loja na Grande SP
Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
Após pedidos do ativista, o vereador Iduigues Martins (PT) enviou um ofício, no dia 6 de novembro, para a Comissão de Assistência Social, Cidadania e Direitos Humanos da Câmara solicitando a realização audiência pública com o tema “Racismo Estrutural em Mogi das Cruzes”.
O presidente da comissão, o vereador Osvaldo Antonio da Silva (Republicanos) afirmou que recebeu o documento, mas que por conta de feriados e de pendências na agenda ainda não se reuniu com os outros integrantes para debater o tema.
Nesta terça-feira (21), ele se encontrará com Iduigues para entender melhor o assunto e, depois, alinhará a questão junto ao grupo.
“Essa iniciativa é de extrema importância. Sabemos que o racismo estrutural existe e como legisladores de todos os cidadãos devemos criar políticas públicas que atendam as demandas e façam a nossa cidade ainda mais justa”, disse o vereador Iduígues Martins.
Lindemberg Alves vê a realização de uma audiência pública que debata o racismo em Mogi como um primeiro passo para dar notoriedade ao assunto na cidade.
Ele, que entre 2020 e 2022 foi presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Mogi das Cruzes, afirma que não há participação por parte dos políticos mogianos quando se tratam de discussões de questões raciais.
Alves vê a audiência como uma oportunidade para que sejam feitas propostas de projetos que atendam a população negra e para que haja um debate com opiniões diversas que possam chegar a um acordo.
Para que a cidade, de fato, mude Lindemberg vê a necessidade de um trabalho transversal.
“Para falar de racismo a gente tem que falar de educação, saúde, segurança pública, intolerância religiosa e mercado de trabalho. A população negra trabalha basicamente em trabalhos secundários, porque tem poucas oportunidades. É preciso discutir sistema de cotas nos concursos públicos e só quando esses assuntos começarem a aparecer que saberemos o compromisso do poder público com os negros e negras”, concluiu o ativista.
Representatividade no Legislativo
Lindemberg observa que está é a Câmara com o maior número de vereadores declarados negros que Mogi das Cruzes já teve, sendo cinco entre os 23 eleitos. Mas, ele ressalta que apenas números não vão mudar as políticas públicas da cidade.
“Se temos cinco vereadores declaradamente negros deveria ter algum tipo de proposta ou trabalho voltado para pessoas negras. Muitas pessoas, quando sofrem algum ato de racismo, usam a cor da pele, mas ela é inválida na hora de criar um projeto. Post de repúdio nas redes sociais não é atitude contra o racismo, é a preservação da própria imagem”, afirmou Lindemberg.
Ele diz ainda que se nem mesmo os representantes lutam pelos negros e fazem propostas, um vereador branco não fará esse papel. “Nós temos figuras que falam sobre a questão racial, mas que não têm representatividade, não entendem o que precisam fazer.”
Assista a mais notícias do Alto Tietê

Adicionar aos favoritos o Link permanente.